Em prosseguimento deste tema, apresento vários gráficos que resultaram das estatísticas efectuadas.
Eles têm a ver com o progresso, em sequências de 5 minutos, das incidências mais importantes ocorridas durante um campeonato inteiro, num total de 23 partidas. Uma das finalidades era obter um perfil amalgamado das 2 partes do jogo e das 2 voltas da prova que pudesse ser considerado como típico dos acontecimentos.
Nos treinos antes do início do Campeonato, relatados na categoria Eu, o treinador, Itália 1982/83 – Hockey Club Monza, 1 a 4, nas prelecções dadas aos atletas, falei-lhes da importância da posse de bola e que ela só teria significado se ocorresse na área adversária. Esse predomínio seria, a meu ver, a única maneira de podermos estabelecer a força de uma equipa.
Este principio foi entendido desde a 1ª volta, permanecendo constante, apesar de durante as reuniões do Grupo Técnico ter tipificado o Monza, logo após o primeiro treino, como uma equipa mediana, quer do ponto de vista físico, técnico e táctico. Sem grande aspirações, a equipa poderia ter acabado mais acima que o 8º lugar, talvez 5º ou 6º, se não se verificassem anomalias já relatadas na categoria acima.
Mas isso já não interessa, agora trata-se de valores estatísticos. O quadro acima é explícito e revela que o Monza teve mais posse de bola na área adversária, traço vermelho a cheio, onde a actuação é mais difícil. A mancha amarela sugere essa supremacia, tornando-se irrelevante a posse no resto da pista. Os golos foram adicionados porque resultam das seticadas atiradas dentro das áreas dos adversários.
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Na 2ª volta, constata-se que a mancha amarela, a posse de bola na área adversária aumentou e permaneceu constante e isso teve consequências. Se na 1ª volta marcámos 36 golos e sofremos 39, nesta 2ª volta marcámos 47, tendo sofrido 35, o que levou a um total final de 83 marcados e 74 sofridos e ao 5º lugar de coeficiente “goal-average” do campeonato, não obstante a 8ª posição na classificação geral.
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Finalmente, a amálgama de todas as partes dos jogos das 2 voltas do Campeonato, no que posso considerar um perfil típico das partidas realizadas. Do quadro abaixo, pode-se tirar as seguintes conclusões:
– Dada a baixa percentagem de golos em relação ao número de seticadas efectuadas, 4,9%, devido à notória falta de treinos do momento e da precisão do gesto, as linhas no gráfico seguem níveis em “escadinha”, indiciando que só realizaremos golos quando atirarmos muitas vezes.
– Contudo, se considerarmos somente as 1267 seticadas que foram à baliza que resultaram em 152 golos, a percentagem é de 12%. Concluímos também que destas seticadas, 1115 foram defendidas pelos guarda-redes a uma média de 50,7 por jogo.
– De assinalar que 1789 seticadas, a uma média de 81,3 por partida, nem sequer tocaram nos postes…
– Por curiosidade, foi inserida foi uma linha que representa os passes errados e as fintas falhadas, registados em 15 jogos, o que, como é óbvio, não abre completamente a janela. Todavia, de acordo com as notações, estes erros e falhas ocorreram a um ritmo de 1,23/min, mais ou menos 6 em cada segmento de 5 minutos.
– De relevância: – Com um simples cálculo, chegamos ao seguinte dado interessante:
– Verifica-se que se em termos globais se verificou 1 seticada em cada 21,42″ (segundos), ver Estatística no Desporto 1.
– Da análise dos registos, considerados os tempos de posse da bola na Área Adversária (AA), que é quando se tenta o golo, damos conta que se verificou 1 seticada em cada 12,86″ (segundos), uma medida bastante elucidativa da competitividade posta em jogo.
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Estes Gráficos acima representam a globalidade dos valores anotados. Como já escrevi, no dia seguinte a cada jornada, tratava os dados e analisava-os, anotando as correcções a fazer durante os treinos da semana seguinte e elaborava um dossier para arquivo.
Em seguimento deste tema, repesquei as pastas respeitantes às 5ª e 18ª jornadas, respectivamente realizadas em 6 de Novembro de 1982 e 29 de Janeiro de 1983, a primeira em casa contra o Roller Monza e a segunda fora, no pavilhão do adversário. Estes dossiers foram escolhidos por se tratar de um derby muito disputado na cidade e que permitem apreciar como, em confrontos com o mesmo adversário, se verificou uma melhoria assinalável entre a 1ª e a 2ª volta.
1ª Mão
Partida disputada em casa, muito cautelosa, com a Pavilhão repleto de espectadores sempre expectantes por se tratar de um derby local em que as paixões afloram com muita facilidade, tornando-se motivo conversa que perduram anos.
Ficou aqui assinalada a importância de Virgílio, o atleta português a militar no Roller Monza e a necessidade de nos acautelar com ele, restringindo a sua acção em futuros jogos.

Gráfico do decorrer da partida, posse de bola na área adversária, parciais e acumulado e incidências de jogo.
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2ª Mão
Partida disputada fora, com muita adrenalina, com o Pavilhão também repleto de espectadores e com a presença dos respectivos Presidentes e seus Dirigentes que, dada a manifesta rivalidade amigável que mantinham entre si, criou uma atmosfera excitante. O resultado da 1ª mão deixava tudo em aberto.
Lembro-me do meu Director desportivo, Fedeli Luigi, que veio sussurrar-me ao ouvido que “se não ganhássemos estávamos feitos”!. O problema é que neste interim 12 jornadas, já tinham decorrido e com elas 12 semanas de treinos, e a nossa equipa já não era a mesma.
- 2 – Mapa de presenças e golos
Estar a vencer por 3 a 1 nos primeiros 13 minutos foi inesperado, dado o ambiente hostil. Houve um natural laissez faire que resultou nos 2 golos do Roller. No intervalo, sopesando o semblante dos meus atletas, acicatei-os no sentido que estávamos ali para dar espectáculo como nos primeiros minutos, e marcar outros tantos golos para fecharmos o resultado. Saudei-os por terem sabido cumprir com o processo treinado de anular o Virgílio e alertei-os para continuarem fazê-lo na 2ª parte, persistentemente, pois tratava-se de um jogador que poderia causar surpresas.
Não sei se foram as minhas palavras, o que foi um facto é que no prosseguimento do jogo, excederam-se e desorientaram por completo os adversários que não conseguiram impedir a goleada.
Foi uma vitória retumbante para gáudio das nossas hostes, e o nosso Presidente, com um sorriso que lhe ia até às orelhas, deixou o Pavilhão, com ar eufórico, acompanhado pelo tristonho Presidente do Roller Moza. O facto é que entre a 1ª e a 2ª mão tinham decorrido 12 semanas e com elas várias sessões de treino o que levou a uma sensível melhoria dos atletas e da equipa em geral.

Gráfico do decorrer da partida, posse de bola na área adversária, parciais e acumulados, sem incidências de jogo, pois só encontro as da 1ª parte. Acho que o meu Director Desportivo não conseguiu registar a 2ª parte e calculo que os cronometristas devem ter tido dificuldades em acompanhar o ritmo diabólico do jogo.
Considerações de última hora:
Em relação aos tempos actuais em que vigora o Hóquei em Gelo em Patins de Rodas, dadas as novas regras que restringem a posse de bola e a obrigatoriedade de andar para a frente em 45″, temos que o CONCEITO de campo todo e a nossa parte do campo desaparecem por magia.
Agora só existe a área adversária (AA) para onde correm, que nem desalmados, todos os atletas em pista. Não há hipótese de se avaliar a força de uma equipa, como conjunto pensante e ardiloso. Os tempos de posse ficam repartidos e nenhum treinador pode falar de táctica colectiva, pois tudo que sucede no jogo, é ao sabor dos velozes jogadores. Lamentavelmente, alguns destes atletas, noutras circunstâncias, poderiam atingir níveis individuais muito mais espectaculares.
O Treinador bem pode esgrimir para a TV, a pasta e a caneta de feltro onde rabisca, também velozmente, soluções que os atletas descartam logo que recomeçam o jogo. Tudo muito mediático que é como mandam as boas maneiras de se iludirem a si próprios.
Não me conformo com estas alterações efectuadas pelos eméritos Engenheiros das Regras, gente esquisita que nem sequer espremeram o cérebro. Simplesmente copiaram tudo de outro desporto e escangalharam o que já era bom!
Como consequência, o novo paradigma criado obliterou por completo a viabilidade de aparecimento de jogadores galácticos, com a agravante que são estes quem atrai multidões fiéis.
Daí, este “Hóquei em Gelo em Patins de Rodas” moribundo…
RIP.