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A sua importância

O facto de ter sido aceite, aos 21 anos de idade,  como treinador/jogador, da equipa da Lusalite do Dondo, Beira, contribuiu para uma reflexão permanente sobre o que se passava em redor de mim. Durante essa época desportiva e sem grande stress pessoal, fui descobrindo que muito teria de aprender no que dizia respeito à preparação de atletas. O meu curriculum, nessa altura, resumia-se a uma digressão de um mês pela Metrópole, de norte a sul, bastante exigente e recheada de jogos, uns atrás dos outros, contra equipas que actuavam de modo diferente, umas fracas e outras bastante fortes e, acima de tudo, a observação “in loco”, dos jogos para o Campeonato do Mundo, em Itália, realizados em 1955.

Da esq., de pé: – Alfredo, Velasco, Carreno, Eduardo Moreira. Agachados: Braz, Celso, Dias e Assunção.

Daí que foi fácil ir buscar ao armazém da memória as experiências positivas recolhidas e procurar transpô-las para o presente. Acho que resultou, até porque a equipa da Lusalite, sem ser a favorita, acabou por ganhar o Campeonato Distrital de 1955/56.

Nas épocas seguintes, de 1956/57 a 1960/61, militei no Clube Ferroviário de Lourenço Marques, actuando como jogador/treinador, posição que levei muito a sério e com grande sentido de responsabilidade. Foram 4 anos e meio a jogar e a obter literatura desportiva, agora suplementada com a experiência adquirida nesse período como componente efectivo da Selecção Nacional, quando ajudei a conquistar todos os títulos internacionais de monta que foram realizados. Numa dialética dinâmica, o binómio jogador/treinador só pôde evoluir.

Da esq., de pé: – Brandão, Nogueira, Velasco, Carrelo. Agachados: – Agostinho, Fonseca, Alberto Moreira e Júlio Carneiro

Desenvolvi nesse período os primeiros impressos de controlo das incidências de jogo, dos tempos de posse de bola, número de seticadas e destinos delas, a fim de poder basear-me em números concretos para determinar as cargas de treino adequadas. A primeira silhueta linear dum guarda-redes, de madeira, foi colocada numa baliza, para apuramento da precisão das seticadas e o treino de conjunto, desenrolava-se em redor de cadeiras já sobre as linhas dum sistema, visando a sincronização da circulação dos jogadores.

Entretanto, a preocupação pelo que se passava dentro do campo nunca me largou. As incógnitas pairavam sobre a distância que um patinador percorre na pista, sobre a velocidade da bola, uma vez batida, sobre o número de passes, etc., e, neste período, apesar de ter obtido determinados valores, a compilação desses elementos foi muito irregular, dado que nem sempre foi possível ter os recursos humanos requeridos para o efeito. A agravar a situação, essas tentativas verificaram-se na época mais intensa da minha participação na Selecção Nacional, levando-me a ausências que provocavam lacunas na busca de dados. Algumas anotações foram efectuadas, socorrendo-me dos atletas de outras categorias que não jogavam. Contudo, com o decorrer dos anos, fui apurando a metodologia e os impressos a preencher, a par dos acessórios para treinos, que esperava utilizar um dia, se houvesse condições para tal. Tive de aguardar 20 anos, de 1963 a 1983, por essa oportunidade!

Estou agora em Itália, a época 1982/83, onde graças à boa vontade de acompanhantes da equipa do Hockey Club Monza, foi possível obter dados estatísticos que vieram colmatar muitas das minhas dúvidas. Com a tecnologia hoje existente, estou seguro que essa busca poderia ser refinada ao limite, de modo a obter informações que ajudem a desenvolver os treinos das técnicas individuais e, eventualmente, controlar as tácticas de grupo, em tempo real, com recurso a um pequeno monitor ao lado do treinador.

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