Reflexões

A evolução...

Antes de mais, queria referir-me a um facto que todos conhecemos bem, um atleta, depois dum defeso, aparece destreinado e incapaz de actuar ao seu melhor nível. O mesmo sucede com os que escrevem, tal como eu, que só de vez em quando é que sou motivado a fazê-lo.

O topógrafo

Tenho consciência que não estou em forma para este tipo de lide, mas acredito que ela virá com os exercícios incríveis que terei de repetir, tal como no desporto, não só para expor as minhas ideias de uma forma clara, como construí-las, utilizando as linguagens e as ferramentas necessárias à publicação dum Site na Web.

Queria também lembrar a frase: Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara, citada na contracapa duma das obras de Saramago. É extraordinário como uma frase tão curta pode conter um significado tão profundo e fascina-me o facto das pessoas, na generalidade, olharem, verem e não repararem, sendo que é exactamente no reparar que os segredos das coisas se deslindam. Não sei, porque carga de águas, mas procuro reparar sempre em tudo, talvez por vício de profissão, por ter sido topógrafo, de aparelho na frente, a obrigar-me a olhar, em termos alargados, a ver bem o alvo e, ao espreitar pelo óculo, reparar na retícula sobre a mira de modo a poder efectuar leituras rigorosas, extrapolando décimos de centímetro a distâncias de 40 a 80 metros. Se calhar foi por isso, pela procura de fracções na régua, mas a citação do Livro dos Conselhos revela uma sageza sobre a qual todos devíamos meditar. No meu caso, reconheço agora que essa frase que desconhecia, tem suportado as minhas experiências de vida, não só pessoais e profissionais, como também desportivas. Reparar, reparar sempre

Por outro lado, a vida desportiva, e não só, é um encadeamento de histórias, e de histórias dentro de outras histórias, em que tudo tem a ver com tudo. Não podemos falar de Hóquei em Patins isoladamente, pois ele não é senão uma das inúmeras actividades a que o homem se dedica. Mas, seguramente, é um enorme “puzzle” cujas peças temos de encaixar com persistência uma nas outras de modo a que a imagem final possa exibir, em toda a sua grandeza e simplicidade, uma modalidade que tanta alegria deu a Portugal.

Importa também dar a conhecer, sob vários aspectos, a história sintética da sua evolução, mesmo que sob um ponto de vista obviamente um tanto inquinado pelas minhas certezas. Surpreendem-me, contudo, os mitos criados à volta do desporto, em especial aqueles colados ao Hóquei em Patins e ao Futebol tradicional. Daí este interesse em relatar a minha experiência desportiva de modo a poder contribuir para desmistificar algumas ideias que tem prevalecido há décadas.

O caos...

Filosofando um pouco, refiro-me agora a famosos cientistas contemporâneos que fazem a afirmação de que o Universo, no seu início, era o caos infinito, de densidade e temperaturas inconcebíveis e que, quando explodiu, segundo a teoria hoje corrente, tudo começou a tender para níveis de organização, isto é, partículas elementares primárias desgovernadas colidiram e geraram átomos, estes moléculas e estas acumularam-se em poeiras e gases, formando nuvens gigantescas as quais, por força da gravidade, originaram por sua vez as estrelas e os planetas, acabando finalmente por se agrupar em incontáveis galáxias. Estes eventos duraram cerca de 15 a 18 mil milhões de anos.

Se pudéssemos observar dum ponto muito distante, talvez por meio dum telescópio, do tipo Hubble, tudo quanto a vista alcança, veríamos que o Homem, como entidade viva, reside num planeta específico entre biliões de outros sistemas solares. Este planeta gira em torno do seu eixo, cada 24 horas, criando o dia e a noite e move-se num movimento de translação à volta do Sol, originando as quatro estações anuais. (Estes factos, provavelmente mais apropriados para uma aula de Geografia ou de Astrofísica, têm contudo repercussões importantes no Desporto no que se refere a alimentação, vestuário, transposições equatoriais, diferença de fusos horários, requerendo uma notável adaptação). Tudo o mais que distinguíssemos está a mover-se a velocidades cada vez mais elevadas na direcção dum destino desconhecido que a natureza impôs a todo o Universo.

O telescópio Hubble.

Este planeta, a nossa Terra, constitui o habitat natural de todas as criaturas que o povoam, agrupadas em incontáveis espécies dos mais variados e exóticos tipos. Algumas, literalmente enraizadas na terra, outras percorrendo a sua superfície ou camadas inferiores e outras, também, nadando em águas ou voando na atmosfera que nos envolve. Na sua viagem para esse destino desconhecido, em qualquer ponto do seu percurso, seja há milhões de anos, seja a milhares, seja no ano passado ou hoje, todas as espécies de seres vivos foram e continuam ainda a ser animadas pela necessidade imediata, comum a todas elas sem excepção, de sobrevivência. Sobreviver de uma hora para outra, de um dia para outro, de um ano para o próximo, de uma geração para a seguinte, tem sido a força dinâmica que tem perpetuado as espécies, oferecendo deste modo o primeiro significado da vida, a cada uma e a todas, em geral. Estamos aqui para nos perpetuarmos e para isso temos de nos adaptar ao habitat.

A sobrevivência é seguramente a mola que agita e dinamiza todos os seres vivos e as exigências primárias que daí advêm são, como é sabido, a contínua necessidade de alimentos e de reprodução. Para esse efeito a natureza desenhou todos os seres com as mais diversificadas formas e estruturas que são, cada uma por si, modelos perfeitos e maravilhosos de adaptação aos respectivos “habitats”, onde se locomovem dramaticamente com o objectivo de satisfazerem essa mesma necessidade. Por outro lado temos o Homem cujo desenvolvimento físico e mental têm vindo a ser cientificamente exposto pelas descobertas e estudo de ossadas, que nos permitiram reproduzir as alterações que ocorreram através dos tempos, começando pela postura inclinada, de símio, de crânio pequeno e maxilares salientes, até à posição erecta, menos animalesca, de volume cerebral aumentado e dentadura recuada que tipifica o homem moderno.

Quando comparamos a fauna que existe em todos os cantos do mundo e vendo o homem e as restantes criaturas vivas, torna-se claramente aparente a sua fraqueza física em relação aos demais. Maravilhamo-nos, assim, com a habilidade que manifestou ao ter sobrevivido em ambientes caracterizados por intensa hostilidade. Para mim, esse milagre deveu-se à inteligência com que a natureza o dotou, concedendo-lhe o privilégio dum cérebro que se desenvolveu numa das mais potentes armas que um ser vivo poderia utilizar para sua defesa e consequente perpetuação. Com uma inteligência especial ou, pelo menos, com uma inteligência diferenciada dos outros seres e mais desenvolvida, o homem tornou-se um gigante, sobrepondo-se a todos eles, duma forma gradual e imparável. Por ironia, tendo começado como relativamente o mais fraco, acabou por transformar-se numa séria ameaça não só para as demais espécies, como também para si próprio. (É óbvio que a inteligência é a chave não só da solução dos problemas como também da criação dos mesmos e, no desporto, devemos pôr de lado o coração e usá-la friamente para dominarmos o adversário ou para os travar).

Agora, se observarmos cuidadosamente o Homem, esse “animal“, como se o víssemos pela primeira vez, reconheceríamos que ele não é mais do que um organismo complexo, formado por milhões de células cujas especializações moldaram os órgãos e os respectivos sistemas vitais que são suportados por uma estrutura óssea cuja articulação depende de vários músculos localizados funcionalmente. Reconheceríamos também que este “animal” ou organismo, só se tornou Homem quando o seu cérebro lhe permitiu ter consciência de si próprio e isso só foi conseguido através de mutações genéticas, experimentadas pela natureza ao longo de milhões de anos, num processo de organização que deixou vestígios na série humana que vai dos Hominídeos ao Homem Sapiens Sapiens que habita o planeta inteiro.

O caos tende para a organização

A tendência para a organização é própria da natureza das coisas. Por vezes, no decorrer dessa tendência organizadora, o caos volta a instalar-se para imediatamente ser contrariado e dar origem a nova organização. Vejamos o homem na Terra, organizou-se em clãs, estes em famílias, estas em tribos e, eventualmente em nações de tribos. Foi uma tendência natural que com o advento da oralidade e da escrita, acabou na premeditação da mesma tendência por meio do estabelecimento de códigos de ética e de moral, da imposição de leis concebidas e ponderadas que proliferam nas sociedades modernas e que continuam, hoje em dia, a serem pensadas e legisladas a nível local, regional e mundial. E apesar dos conflitos devastadores que assolaram a humanidade, em que nações e populações foram arrasadas ao longo de milénios, o caos resultante deu sempre origem à organização.

A organização pode ser acidental (natural) ou premeditada (consciente)

O Universo organizou-se naturalmente por si próprio, dadas as forças peculiares que contém no seu seio. As galáxias afastam-se como resultado da explosão inicial, tendo havido, no entanto, momentos no passado longínquo em que colidiram, reinstalando o caos. Todavia, mandava a natureza das coisas que se dispersassem e assim foi, “reorganizaram-se” e é hoje dado adquirido que continuam a afastar-se, estando cada vez mais longe uma das outras. Falar-se em evolução premeditada, teríamos de esperar 15 a 18 biliões de anos, até que o ser humano contivesse uma estrutura cerebral complexa capaz de ter consciência de si próprio, isto é, “emocionar-se, sentir e pensar, imaginar, memorizar, racionalizar, comparar, concluir”, etc., que são, felizmente, os atributos especiais que nos permitem criar e construir o nosso futuro dum modo consciente.

O Homem, no seu processo evolutivo, tem vindo a adaptar-se às solicitações externas de uma maneira natural. Entretanto, parte desse tipo de adaptação deixou de existir, creio eu, como resultado do desenvolvimento do cérebro e consequente capacidade intelectual, que deu origem a um novo tipo de adaptação, o artificial. Onde certos animais desenvolveram cascos, estão cobertos de pêlos ou possuem cornaduras ósseas, o Homem usa sapatos, cobre-se com roupas e chapéus. Onde outros animais perseguem as suas presas em grande velocidade, descarnando-as com garras e mandíbulas poderosas, o Homem monta cavalos ou guia carros, armado de lanças ou espingardas, e até de palitos para as refeições que se seguem. Esta artificialidade é produto da sua inteligência a qual, bem ou mal, encaminhou-nos até hoje.

 

10 Responses to Reflexões

  1. joaquim da silva says:

    Caro Velasco,
    Quem é o Senhor Antonio Faria? É um ser imaginario?
    O que escrebeu ele para o por assim?
    Pode me dar esses links?
    Abraços,

    joaquim da silva

  2. Velasco says:

    Caro Joaquim da Silva
    Um extraterrestre não é, pois este, para chegar cá, deve ser muito mais avançado que nós e há milénios que teria descartado a Teoria da Criação, tal como a conhecemos. O estar assim é simplesmente pela linguagem expressa por esse senhor que merece uma resposta adequada e, como prometi, toda a correspondência será colocada na categoria Da Cartola, em devido tempo. Não será tão cedo dado que o tenho em mão é prioritário para o meu Site. Os links já foram eliminados, contudo poderá acedê-los com uma pesquisa na Web, escrevendo “A Criação que Evolui”.
    Um abraço.

  3. joaquim da silva says:

    Caro Velasco,
    Nesse titulo não esta lá ninguem chamado Faria.
    Não se teria enganado?
    Abraços,

    joaquim da silva

  4. Velasco says:

    Caro Joaquim da Silva.
    Pois não está mas foi para lá que fui parar. Esse senhor limitou-se respeitosamente a entrar nos meus comentários com a indicação de 2 hiperligações para um Forum que desconhecia. Entendi que não devia fazê-lo pelas razões já adiantadas mas pelos comentários disponíveis, vê-se que inicialmente manifestei a minha surpresa. Contudo, investiguei o “link” e, não o achando apropriado, informei o senhor que ia tudo para o lixo, (reciclagem), que é um termo utilizado pelas Agências de Rating para classificar os países mal comportados. Aí o senhor Silva Faria desgovernou-se e mandou-me uns lençóis de texto que a seu tempo publicarei na íntegra com as minhas respostas, pois antevejo um “bate-papo” interessante e em sequência das minhas “Reflexões”. Só que neste momento estou empenhado em assuntos conotados com o tema desportivo do meu Site.
    Velasco

  5. joaquim da silva says:

    Caro Velasco,
    Por favor não se zangue comigo.
    Essa pessoa em lugar de 1 mandou-lhe 2 links iguais por brincadeira da teoria que evolui.
    Foi lá e biu que ele não tinha escrito nada e que o que por lá está que é muito e xato na minha maneira de ber, não se coadunava com o seu Site. Por isso foi tudo para o lixo os 2 links repetidos e o que o senhor Faria escrebeu faltando-lhe ao respeito. Estou a pensar bem?
    Afinal não foi só o senhor Faria que se portou mal.
    Na sua ultima resposta tambem fala em um senhor Silva.
    Carago disculpe o desabafo cada bez estou mais baralhado.
    Desisto. Não se zangue.
    Abraços,

    joaquim da silva

  6. Velasco says:

    Caro Joaquim da Silva
    Antes de mais, reconheço que cometi um erro na resposta ao seu comentário. Onde se lê “Aí o senhor Silva” devia ter sido escrito “Aí o senhor Faria”, erro que tratarei de corrigir para evitar confusões. Tardio da hora? Acontece por vezes… Contudo agradeço ter-me alertado.
    Claro que não me zango, para mais com pessoas do Norte que sempre respeitei e das quais guardo o carinho e a simpatia que sempre me prodigalizaram quando actuei nessa região como desportista.
    O senhor António Faria não me faltou ao respeito na sua primeira intervenção, insisto. Também não anexou os 2 links por brincadeira. Enviou-os em termos normais, só que as ligações não traziam valor acrescentado.
    Como deve calcular, eu correspondo com pessoas que identifico e outras que desconheço. O senhor, por exemplo, escreve como fala: biu, ber, escrebeu, bez e carago, tal como bons amigos meus do Norte se expressam. Por outro lado, o senhor pode estar a redigir dessa maneira, quiçá para me induzir em erro… como poderei saber?
    O que eu sei é que já me pediu esses “links”, os quais eu só poderia enviar por esta via, o que não farei. Mais ainda, acabou de me escrever e cito: “o que por lá está é muito e xato na minha maneira de ber”. Portanto, é fácil de concluir que já tinha conhecimento do seu conteúdo.
    Não admira o seu desabafo, que é desculpável, e estar “cada bez mais baralhado“.
    O problema é que eu posso errar numa palavra ou outra mas não me baralho com facilidade.
    Acho que ficaremos por aqui. Foi interessante, seja você real ou imaginário, do norte, do sul ou de qualquer outra parte do mundo.
    Retribuo os abraços.
    Velasco

  7. joaquim da silva says:

    Caro Velasco,
    Sou da Inbicta – Fontainhas ao seu dispor.
    Induzir em erro para quê? Não bou pedir-lhe dinheiro nem nada.
    A minha fala é tão antiga e valida como a falada nos outros lugares. Foi feita pelo pobo do Porto. Quem faz a fala ensinaram-me na escola é o pobo, não sao os letrados que só serbem para a estragar.
    Abraços,

    quim, para os amigos.

  8. Velasco says:

    CARAGO!
    Estou a ber que correspondi com um berdadeiro homem do pobo! Tenho de informar a minha mulher, ex-estrangeira, pois quando ela cá chegou, há trinta anos, passou a ser do Puerto, do Inbicto, porque ganhabam tudo! Eu que sou berde, mudaba de cor mas aturaba-a… E o meu filho, bermelhudo, ficaba a ber a águia a boar espaborida para fora do estádio!

    Caro Quim, prazer e um abraço.
    Chico para os amigos.

  9. joaquim da silva says:

    Caro amigo Chico,
    Estou muito satisfeito por saber que foram muito bem tratados pela Inbicta. Terra que dá balor e amizade a quem o tem.
    Apresento os meus respeitosos cumprimentos à esposa do amigo Chico.
    Abraços amigos,

    quim

  10. Velasco says:

    Caro Quim
    Fomos, sim senhor…! E desde 1955, quando vim pela 1ª. vez em digressão a Portugal, com a equipa do SNECI e sempre que lá vou, o que é mais raro ultimamente. Minha esposa vai ficar encantada.
    Um abraço e quem sabe até um dia.
    Chico

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