O Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria foi a nova denominação dada à Associação dos mesmos empregados, situada na Av. Pinheiro Chagas, em Lourenço Marques, hoje Maputo, capital de Moçambique. As instalações da Associação compreendiam um edifício cujo primeiro andar alojava a secretaria e o salão nobre, e o rés-do chão um bar, uma sala de jogos com mesas de bilhar, de pingue-pongue, de jogos de cartas, mais balneários e arrecadações.
No exterior, ao ar livre, existia o rinque de patinagem, apoiado num lado por uma esplanada com cadeiras e mesas de metal a rodearem uma cabine de som, tudo protegido por uma cobertura de caniço.
No lado oposto, duas fiadas de bancadas de madeira, interrompidas a meio pela casota onde se sediava a mesa de juri. Num dos seus topos encontrava-se um magnífica Carreira de Tiro, para alvos à distância de 25 e 50 metros, e um armeiro com as respectivas armas de calibre.22, algumas de alta precisão.
Dispersos situavam-se 4 campos de ténis, delimitados por altas redes e servidos por caramanchões. A seguir, mais ao fundo, localizavam-se os campos de basquetebol e de voleibol, em saibro, regularmente compactado por rolos de cilindro, um par de baloiços em estrutura metálica, e um ginásio aberto com espaldares, barras, trapézios, argolas, cordas. Noutro local, num escritório/armazém guardava-se o material de atletismo, desde caixas para saltos, cavalos, trampolins até bolas para ginástica.
Estas instalações, extraordinárias para uma Associação deste cariz, revelam já o espírito com que se encarava o Desporto nesta cidade, nos longínquos anos de 1940. Por esta altura, praticava-se já Hóquei em Patins entre grupos com nomes exóticos, os Múmias, os Leopardos, os Apanha-bonés… faziam-se Corridas, Gincanas e iniciara-se a Patinagem Artística.
Teria eu sete para oito anos quando dei conta deste universo tão atraente, indo assistir às festas que na Associação se realizavam, em especial as referentes à patinagem. E foi seguramente por esta altura que calcei um par de patins extensíveis, de orelhas, que apertavam as solas dos sapatos, como garras, então muito em voga.
Para estas instalações convergia a rapaziada das redondezes, que aos poucos e poucos foram usufruindo de todo este equipamento, afastando os mais idosos que já não podiam com o alarido da juventude e tornando-se frequentadores diários e praticantes das diversas modalidades, que se foram organizando expontâneamente, durante anos a fio.
Foi em 1947/48 é que esta actividade avulsa e frenética, própria da idade, passou a ser devidamente controlada. Um funcionário da secretaria do agora denominado Sindicato Nacional, o inesquecível Armando Lima de Abreu, ao observar os 30 a 40 jovens que por ali pairavam diáriamente, resolveu organizá-los, reunindo-se com eles e dizendo como seria dali em diante. E assim apareceram as primeiras três equipas de Júniores e posteriormente as de Terceiras e Segundas categorias, mantendo-se inicialmente as Primeiras categorias com os jogadores que vinham do passado, os tais das Múmias e Lagartos…
Por outro lado, enquanto estudantes, a rapaziada estava activa praticamente todos as tardes, em especial durante os três meses de férias em que a presença era de manhã, à tarde e por vezes à noite. Patinava-se, organizam-se gincanas, corridas, jogava-se hóquei, basquetebol, vóleibol, ténis e fazia-se ginástica nos espaldares ao ar livre e ainda natação, nas piscinas e praias da Polana. As pausas eram preenchidas no salão de jogos, nas mesas de bilhar, de pingue-pongue e de matraquilhos.
Os anos foram passando, veio a fase dos empregos e a dispersão da malta por outros clubes mas o SNECI continuava a ser o local favorito de encontro. Eventualmente, esta instituição acabou por produzir um campeão de Moçambique de ténis e pingue-pongue, o António Trindade e quatro Campeões do Mundo e da Europa, de hóquei em patins, o Alberto Moreira, o António Souto, o Amadeu Bouçós e eu.

Arlindo da Silva Vicente, instantâneo feliz tirado pelo Amadeu Bouçós, com uma máquina do tipo caixote
À ilharga destes, não posso deixar de recordar o Arlindo da Silva Vicente, um amante da ginástica que esteve quase para integrar um circo em Londres, a convite do seu instrutor Garcez Palha, de nome artístico Roy Marovi, que via nele grande talento e futuro. O Arlindo foi de todos nós aquele que deu utilidade ao Ginásio ao ar livre existente nas instalações, com os seus trapézios, barras, cordas e espaldares.
Os Dirigentes:
– Armando Pedroso de Lima
Presidente do Conselho Geral do Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria, chefe da delegação do SNECI, em digressão por Portugal em 1955. Incontestável o seu empenhamento na concretização desse evento e na liderança da Embaixada, evidenciados nos seus discursos aos governantes do país, desde Presidentes de Sindicatos, Governadores Civis, Bispos, Secretários de Estado, Ministros, ao Presidente do Conselho e ao Presidente da República, proferidos com forte personalidade durante essa memorável visita. Verdadeiras lições de boa expressão e de à vontade, na presença de tão ilustres individualidades, a transformar o que inicialmente não passava de uma digressão desportiva, numa Embaixada Corporativa-Desportiva, nomenclatura muito do agrado do regime da altura.
Além da compilação do Boletim nº 7, ano 4, Abril/Junho de 1955, dedicado à digressão, do qual extrairei muita informação pertinente, sempre com referência a esse mesmo boletim, pouco mais de notável fez, a não ser ter dado origem, dum modo obsessivo e intrigante, a um dos tais mitos a que já me referi, o do treinador. E fê-lo em consciência, dando projecção a um dos que literalmente nada fazem, que esgueiram-se pelos cantos e que no futuro se revelaria pernicioso. Escondeu outrossim, e por completo, o verdadeiro obreiro, o sr. Armando Lima de Abreu, cujo nome aparece discretamente numa linha do Boletim, como se nunca lá tivesse estado ou tivesse entrado por uma porta e saído por outra.
Mas na realidade, o Lima de Abreu foi o único que esteve à frente dos vários plantéis do SNECI, desde 1947 até 1957, com excepção do ano de 1955. Nove anos! Nunca entendi isso e basta dizer que o novo mito, em plena digressão desportiva, estava para ser mandado de volta, no “próximo avião” e fui eu que o impedi, numa conversa com o director responsável, com esta simples declaração, repetida ad nauseam: “Se ele regressa, faça o favor de marcar um lugar a seu lado, pois vou com ele”. Para mim essa iniciativa era intolerável, logo no começo da digressão, não pelo treinador, mas sim pela vergonha que recairia sobre a pessoa que, num passado próximo, até fora meu companheiro de equipa. O braço de ferro continuou durante a noite até às quatro da madrugada, não me deixando dormir nem ao meu colega de quarto que foi quem me tinha dado a novidade dessa intenção inacreditável. Como não a achei justa, não cedi e houve um recuo e o mito continuou a ser treinador e a fazer nada, não só nessa digressão, como durante os três anos seguintes em que foi aparecendo, como uma enguia, neste ou naquele evento.
À parte este desvio que pretende ser correctivo e compreendido no contexto da altura, quero deixar o seguinte registo extraído do Boletim, que acho de inteira justiça e com o qual sempre concordei, sem reservas:
(Da acta da reunião do Conselho Geral realizada em 7 de Junho de 1955. Voto aprovado por maioria por abstenção do visado).
– António Maria Ferreira Marques de Campos
Presidente da Direcção do SNECI, uma pessoa discreta e sempre presente, quer nos treinos quer nos jogos onde era visto com a sua esposa, D. Maria José Alvaredo Abrantes de Campos, a apoiar os atletas. Foi o introdutor de complementos de alimentação para os atletas na altura solicitados a grandes esforços.
Pena foi que o seu nome, não aparecesse com o relevo que merecia no citado Boletim, com excepção duma foto da loja Casa Alvaredo, propriedade da esposa, onde todos os troféus ganhos pela equipa do SNECI foram exibidos em montra preparada para o efeito e outra em que é visto a distribuir os tais reforços alimentares. Era o responsável pela contabilidade do organismo em cuja secretaria trabalhei, desde 1952 até 1955, sob a chefia do inesquecível Dr. Secundino Alonso.
Foi a minha primeira experiência profissional, após ter deixado o Liceu e foram três anos de formação frutífera, rodeado de colegas extraordinários, sempre disponíveis para ensinar e acompanhar. Tornei-me um funcionário polivalente, primeiro na Secção de Quotização, depois na de Recepção, passando pela Caixa e eventualmente até nas Carteiras Profissionais, onde ajudava o seu responsável no preenchimento desses documentos. Deixo aqui a minha gratidão a todos eles e uma lembrança dos seus nomes:
– Ferrinho – na Recepção da Correspondência
– Luis Lopes Serrão – na Recepção ao balcão
– D. Fernanda – na Agência de Colocações
– D. Cacilda – secretária, (uns dedos sempre a metralhar!)
– Armando Lima de Abreu – nas Carteiras Profissionais
– Almeida – Contabilidade
– Mário Purvis – Caixa
– Torre do Vale – ecónomo do Bar e responsável pelas salas de jogos.
– O velhote Beato – voluntariado, sempre nas instalações
– JOAQUIM CORREIA SARAIVA
Por Francisco Velasco (publicado no site Rogertutinegra)
«Construir um Álbum que possa registar a actividade de Joaquim Correia Saraiva, um dos Dirigentes mais carismáticos do Desporto Moçambicano, é um imperativo histórico e inteiramente justificado. Não vou alargar o âmbito da sua intervenção às outras modalidades desportivas em que também se envolveu, pois desconheço os detalhes e cingir-me-ei ao Hóquei em Patins, na altura a modalidade que despertava mais simpatias e emoções nas gentes moçambicanas.
Eu conheci, como todos, o Joaquim Saraiva da Minerva Central, um empregado superior, estimado pelos proprietários da Livraria., sentado numa secretária, por detrás duma estante de livros, no primeiro andar, onde advogados, professores, artistas, intelectuais, funcionários públicos e outros, procuravam novidades literárias ou obras já encomendadas que porventura tivessem chegado da Metrópole ou do Brasil. Todavia, foi no Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria, o SNECI, que a nossa amizade teve início, se solidificou e que perdurou até nos deixar.
Que me lembre, o Presidente do Conselho Geral do SNECI, Armando Pedroso de Lima, de quem o Joaquim Saraiva era um acérrimo crítico, numa jogada brilhante de xadrez, alertando para o facto que todos falavam e nada faziam, acabou por lançar um desafio e convidar o Saraiva para assumir a direcção da Secção de Hóquei em Patins do SNECI. Em boa hora assim o fez, pois o desafio foi aceite e o Joaquim Correia Saraiva entrou no rol dos dirigentes que mais fizeram pela nossa Modalidade Rainha já que o futebol, apesar de sistematicamente rapinado na altura, dos seus melhores futebolistas, ainda continuar a ser o Desporto Rei.
Vai ser difícil completar o Álbum com fotografias suficientes, pois o Joaquim não era dos que empurravam para ficar na foto e suas, poucas existem na verdade. Contudo algumas ficaram comigo, mas a maior parte delas, tiradas na Metrópole e utilizadas na feitura do Boletim Especial de Abril – Junho de 1955, ano 4, nº 7, comemorativo da 1ª digressão de uma equipa de Hóquei Patins a Portugal, talvez estejam arquivadas ou perdidas, nalgum dos arquivos das oficinas do jornal “Notícias”, onde esse boletim foi composto.
O desafio, por parte do Presidente do Sindicato, deve ter ocorrido no ano de 1953, pois em 1954, já a Secção de Hóquei tinha sofrido alterações profundas em matéria de equipamentos, vestuário, inclusivamente alimentação disponível após os treinos, sob a forma de produtos vitamínicos que todos recebemos com agrado. Nesse ano, Joaquim Correia Saraiva encetou os seus contactos com amigos e conhecidos em Portugal, destacando-se o Armando Ribeiro, com quem formou uma parelha eficaz na concretização do objectivo que era levar a equipa do SNECI a realizar uma série de jogos na Metrópole, tendo avisado todos os atletas desse projecto. Tal facto animou as hostes de tal modo que o nosso empenhamento nos treinos resultou na contínua supremacia sobre as demais equipas, que paulatinamente fomos vencendo na maior parte dos torneios levados a cabo pela Associação local.
Os resultados dos jogos foram verdadeiramente expressivos e nesse ano, os jogadores moçambicanos do SNECI impuseram a sua supremacia, em definitivo, especialmente sobre o conjunto do Clube Ferroviário de Lourenço Marques, onde militavam atletas vindos da Metrópole, em especial da Associação Desportiva de Oeiras, de grande craveira, com curriculums invejáveis, ficando assim ultrapassada a primeira fase que era adquirir a confiança necessária para agora enfrentar equipas similares e certamente mais fortes.
Coube a Joaquim Saraiva, coadjuvado por Armando Ribeiro, a realização de todas as ”démarches” necessárias para concretizarmos o sonho duma viagem a Portugal o qual, à excepção do Amadeu Bouçós, mais ninguém conhecia. Posteriormente, com a intervenção do sr. Ministro do Ultramar, foram desbloqueados os meios financeiros requeridos para a digressão e aquando da nossa chegada, fomos permanentemente acompanhados por amigos comuns do Armando Ribeiro e do Joaquim Correia Saraiva, os inesquecíveis Fernando Gouveia da Costa e Artur Ferreira Gonzaga da Silva, e outros, indicados pelo Presidente da Associação de Patinagem do Sul, sr. Fernando Ramos, outro incomparável amigo, para constituírem uma comissão de recepção. E coube a todos estes saudosos amigos, uma quota-parte do sucesso da nossa digressão, pela companhia e apoio permanente que diariamente sempre nos proporcionaram com prejuízo dos seus familiares, animando-nos com o seu humor e alegria e o modo como sofriam durante os nossos jogos.
Assim, indo directo à questão mais importante, se não tivesse aparecido um dirigente do calibre dum Joaquim Correia Saraiva, que não tendo sido desportista, creio eu, era por outro lado uma personalidade dinâmica que, aparecendo pouco muito fazia, coordenando tudo. Ganhou facilmente o respeito de todo o plantel do SNECI. Soube ouvir os atletas durante horas a fio quando as coisas azedavam e soube entendê-los e permanecer a seu lado em todos os momentos cruciais. Se o Saraiva não tivesse existido, estou em querer que o sucesso avassalador do Hóquei de Moçambique não teria sido uma realidade. Aquela fora a oportunidade de ouro com que qualquer dirigente sonha e tivemos no Saraiva o homem que não a deixou escapar e bem haja por isso pois catapultou com a sua visão audaciosa, os sonhos de toda uma equipa e de toda uma população delirante e ansiosa.
Apesar de ter sido sempre avesso a fotografias, aparece numa, a receber a Medalha de Prata de Mérito Desportivo com que a Associação de Patinagem de Lourenço Marques o agraciou. O Dirigente Joaquim Correia Saraiva ficará na história do Hóquei em Patins de Moçambique como o HOMEM CERTO, no MOMENTO CERTO, e já contou e continuará a contar sempre com a gratidão e amizade de todos os componentes da equipa do SNECI.
Mais tarde, em 1957, aquando da minha mudança para o Clube Ferroviário de Lourenço Marques, como jogador vindo da Lusalite da Beira, fui convidado para ser Treinador-jogador o que aceitei com a condição de a Direcção do Clube, liderada pelo sr. Engº Eduardo Veríssimo Dias Barbosa, realizar no mais curto espaço de tempo, um Torneio Internacional, com a participação da Selecção de Espanha, na altura vencedora do Campeonato da Europa, e que tinha relegado a Selecção Nacional Portuguesa, (primeira escolha), para um plano inferior, nada adequado ao sucesso económico do Festival que se pretendia levar a cabo no pavilhão coberto do Clube Malhangalene. Como era de se esperar, a Direcção do Ferroviário convidou Joaquim Correia Saraiva para fazer parte da Comissão Organizadora, e os seus contactos com o Armando Ribeiro foram reatados e ambos intercederam junto das instituições Espanholas no sentido viajarem até Moçambique o que eles fizeram como Selecção da Catalunha.
Por sinal, este Torneio acabou por ser a confirmação da qualidade e força do Hóquei Moçambicano, que derrotou esta Selecção recém Campeã da Europa, por 4-3 com uma selecção local mista e, logo no dia seguinte, por 5-1, com a Selecção de Lourenço Marques, deslumbrando os próprios adversários os quais, ao passarem por Lisboa, de regresso a casa, deixaram expresso nos jornais que a Selecção Nacional Portuguesa “estava lá em baixo”, em África.
O apoio dado à Selecção da Catalunha pelos dirigentes moçambicanos e o modo como eles foram cavalheirescamente tratados durante a sua estadia, teve como reflexo a atribuição de duas Medalhas de Honra, uma ao Presidente do Clube Ferroviário, sr. Engº Eduardo Veríssimo Dias Barbosa e a outra ao sr. Joaquim Correia Saraiva, “personas individuales que se hayan distinguido por la ayuda prestada a la Federación Española de Patinaje”, conforme quadro inserido no Anuário publicado por essa Federação, em 1963, sob a umbrela do Comité Olímpico Espanhol.
Posto isto, vou pôr ao dispor do Álbum, algumas momentos de um evento que reuniu a maior parte das pessoas que dum certo foram protagonistas importantes na história do Hóquei em Patins Nacional e Moçambicano, onde Joaquim Correia Saraiva também tem lugar no pódio, conforme se pode testemunhar. Apesar do acontecimento se tratar duma mera confraternização entre amigos e colegas, num outro contexto, utilizarei as fotografias, à falta de outras, para transformá-las numa homenagem jamais feita mas merecida, a esse grande dirigente e amigo».
– Armando Ribeiro
(Do Boletim nº 7, ano 4, Abril/Junho de 1955, do SNECI)
«Na lista das entidades colectivas ou individuais que tornaram possível a nossa digressão e o seu assinalado êxito, tem lugar de merecido destaque Armando Ribeiro.
Conhecedor do valor dos nossos atletas pois que com eles já aqui privara embora durante pouco tempo, a ele se deve que os clubes da modalidade e as associações de patinagem da Metrópole tivessem acreditado no valor da nossa equipa quando a ideia da nossa deslocação não tinha ainda tomado forma definitiva.
Foi ainda o seu enorme entusiasmo, verdadeiramente contagiante, que nos levou a ir junto das entidades oficiais solicitar os valiosos auxílios que haviam de tornar possível a deslocação da nossa Embaixada.
Foi finalmente verdadeiramente apreciável a sua assistência na Metrópole durante a nossa estadia ali, quer auxiliando-nos na organização da digressão quer como técnico da modalidade assistindo os nossos atletas na maior parte dos jogos efectuados no Continente.
Na primeira sessão deste Conselho Geral após o nosso regresso da Metrópole, foi deliberado na respectiva acta fazer exarar um «voto de agradecimento e de louvor ao Sr. Armando Ribeiro, pela dedicação e entusiasmo postos nas diligências que tornaram possível a deslocação da representação desportiva do S.N.E.C.I., e ainda pela organização do programa da digressão e direcção técnica da equipa, na Metrópole»
Mais foi deliberado pelo Conselho Geral atribuir o nome de Armando Ribeiro a uma das taças a disputar no nosso festival no final da época 1954/1955. Ainda de harmonia com a mesma deliberação foi remetida a Armando Ribeiro, como recordação, uma miniatura da taça a que foi atribuído o seu nome como justa homenagem do S.N.E.C.I.»
Nota: Em aditamento a este merecido louvor, achei pertinente introduzir uma carta-aberta publicada em Portugal, a propósito duma polémica que se verificou entre o Sr. Armando Ribeiro e a Federação Portuguesa de Patinagem, em 1989.
«Exmo. Sr. Director do “Record”
Há anos que colecciono o “Record” como fonte de informações sobre o Desporto em geral e o Hóquei em Patins em particular.
Tendo lido o artigo publicado na vossa edição de 3 de Janeiro passado que relatava o acto de posse da FPP, fiquei genuinamente chocado com o título nele exposto.
Como homem do desporto, gostaria de poder demonstrar a mimha solidariedade para com outro homem do desporto.
Assim, se entender que esta poderá ser uma intromissão válida, agradecia-lhe que me permitisse ocupar espaço no seu jornal, a fim de poder fazer chegar uma mensagem ao sr. Armando Ribeiro.
O que poderia ser feito sob a forma duma carta aberta.
Antecipadamente agradecido, creia-me a v/dispor. Francisco Velasco»
«Caro Armando Ribeiro
Não posso deixar que passes “fugazmente” sem escrever-te umas linhas de modo a manifestar a minha grande tristeza pela falta de diálogo que por vezes nos engole a todos., arrastando-nos para posições de força e de conflito que de outro modo poderiam ser evitadas.
Estou particularmente habilitado a reconhecer essas situações, por já ter sido apanhado por elas. Como deves recordar, anos atrás, saí a público para te “deitar abaixo”, como se soi dizer. Fi-lo emocionalmente, o atleta enfrentando o técnico, fi-lo sob o peso da minha juventude e o calor de momento e uma visão própria dos acontecimentos.
Não dialogámos então! Falhámos aí, errámos ambos, acabando por nos situar em lados opostos, cada um com as suas razões.
Todavia, tínhamos um ponto em comum e jamais alguém poderá contestar, gostávamos imenso do Hóquei em Patins. Tu, procurando “proteger” os rapazes de Moçambique, apertando-os demasiado entre os braços e eu, ironicamente, a tentar libertar-me e chegar aos meus irmãos do continente.
Acredito que tenha sido isto, em traços largos, o que se passou na altura e, apesar dos mimos trocados, o respeito permaneceu, houve uma dama a defender mas não existiram insultos viciosos, houve emoção mas não houve ódio.
Mas voltemos à realidade actual…
É possível que a tua passagem tenha sido fugaz, (não acompanhei o teu percurso porque vivia em África), no entanto, históricamente, já ficou registado e agora só basta sacudir as memórias curtas, que foi através dos teus esforços e dedicação, em sintonia com alguns outros, que os jogadores de Moçambique foram revelados ao mundo, jogadores esses que acabaram por revolucionar o Hóquei em Patins, ganhando para Portugal todos os títulos máximos da modalidade.
Nesses teus esforços, terás concerteza posto muito de ti, muita paixão, muitas horas de labor, muita persistência e viagens longas. Será presunção tentar contabilizar tudo isso. A essa tua entrega total a um sonho que nesses tempos tão difícil foi de realizar, contraponho a minha sincera gratidão, pois eu, que também passei por cá fugazmente, se fui duas vezes campeão do Mundo, campeão da Europa e campeão Latino, em parte e na origem a ti o devo.
Fugaz, Armando Ribeiro, mas marcante! Naquela época comandavas o respeito de meio Portugal. Com os meus vinte anos de idade, observei, “in loco”, durante a célebre digressão da primeira equipa de Hóquei em Patins moçambicana a vir até à chamada Metrópole, a tua imensa popularidade e inegável carisma, onde quer que fôssemos. A tua alegria e imprevisível sentido de humor, eram um cartão de visita ímpar, de invejar. E não foram poucos os sítios por onde andámos e jogámos.
Caro Armando Ribeiro, não creio que tenhas mudado a pontos de seres hoje uma figura sinistra. O problema continua a ser a falta de diálogo e, se nós no passado, cometemos o “êrro” de não termos dialogado, hoje existem aqueles que cometem o “crime” de não dialogar e que fingem descaradamente estar a fazê-lo.
Obcecados pela proximidade do Olimpismo, que todos nós desejamos,, há por aí “lapas agarradas à rocha”, (parafraseio o inigualável Padre Miguel), que já não se limitam a ficar calados ou a soltar slogans indecorosamente gastos, como agora desatam a arranhar e morder toda e qualquer oposição ou crítica desfavorável.
Mas não estás só, Armando Ribeiro, o António Varela que fez a cobertura jornalística de Montreux, deve ainda estar a pôr tintura nas feridas. E, se o professor Manaças, que há dois ou três meses atrás se demitiu do cargo que exercia no Gabinete Técnico da FPP, por não aceitar que os seus juniores sejam “destruidos e amachucados”, (sic), numa prova internacional, resolver explicar como é que isso estava a ser feito, então isto mete tiro concerteza!
Talvez tenhas sido fugaz, mas eu no teu lugar não me alarmaria pois isso não constitui necessariamente um insulto. Salazar colou-se à cadeira o tempo que nós sabemos e Portugal ficou no estado em que ficou! E se queres a minha opinião, apesar daqueles que estão na FPP há vinte, trinta anos, o Hóquei em Patins português vai de mal para pior. A encenação montada não chega para iludir uma pessoa minimamente atenta. Todos os anos, com uma regularidade impressionante, varrem o lixo para debaixo do tapete… e recomeçam de novo.
A nível mundial, não obstante os tais que não são fugazes, é o que se vê: No grupo A, dez países com a mesma força relativa de há trinta anos atrás e, no grupo B, (surpresa das surpresas!), de acordo com informações emanadas da FPP e do CIRH, milhares de pessoas acorreram ao Pavilhão de Bogotá, em ritmo crescente chegando mesmo nu último dia a 14.000 pessoas, para assistirem a jogos com resultados empolgantes, tais como, 40-0, 30-0, 26-2, 23-1, etc, etc.
Dá para concluir que se calhar é melhor passarmos sem ser vistos, mas antes de terminar, desjaria dar-te uma notícia optimista:
O novo Seleccionador Nacional de Juniores, há dias empossado, afirmou em letras gordas, tecendo os mais rasgados elogios ao trabalho levado a cabo pelo elenco federativo, que “no Hóquei em Patins tudo está inventado”, (sic).
E, se somarmos a isso o facto que a formação de treinadores em Portugal, feita pela FPP, está a ser baseada em documentos escritos que postulam conceitos errados, que confundem a evolução e a história do Hóquei em Patins, que adulteram o significado das palavras e desse modo o sentido das coisas… temos que a modalidade tem o futuro assegurado e alguns já asseguraram o futuro!
Não te preocupes, Armando Ribeiro, vai tudo bem… Um abraço amigo. Francisco Velasco»
Lembranças inesquecíveis.
Eu morava na Afonso de Albuquerque mesmo por trás do Sindicato. Era aí que eu praticava tiro ao alvo pelo Desportivo , cujo treinador era o Paes Mamed. Fui campeão de L.M. e duas vezes em vários torneios contra o próprio Mamede e Vila Maior e Carlos Perdiz do Ferroviário.
Também ia lá jogar bilhar
Saudades.
Abração
Rui
O “Paes Mamede” do Tiro/Desportivo era o meu primo José, que, julgo, cujo nome foi dado, depois, à “cerreira de tiro” do Desportivo de L.M..
Um abraço
Francisco
Bem me parecia que era um familiar teu.
Abraço.
joguei no SNECI nos anos de 1958, 59 e 60 tendo deixado de jogar por ter sido agredido em jogo de treino pelo ja falecido RUI DIAS que foi suspenso por 2 anos por essa agrecao. O meu irmao FRANKLIN tambem la jogou o treinador era o ARMANDO VELOSO
Caro Anto’nio Guilherme
Nesses tres anos, eu ja’ jogava no Ferrovia’rio desde 1956. De 1958 a 1960 andava permanentemente em provas internacionais, dai’ que nao me recorde de vo’s. Do Rui Dias e do Armando Veloso sim, se bem que nunca tivesse falado com este u’ltimo. Quanto ao Rui Dias, teve o destino que todos no’s conhecemos. Ele gostava de conversar comigo sobre a modalidade, era muito curioso. Se tiveres um foto da vossa equipa nessa altura, talvez possa inclui-la num artigo adequado, se me enviares um scan para o meu email: chico.velasco@gmail.com. Desculpa os acentos mas passei dum PC para o iMac e ainda nao descobri como activa’-los. Um abraço.
A minha Mãe trabalhou no SNECI, era a Dª Fernana Figueiredo chefe de secçºão, juntamente com o Sr.Dr.Alonso, e eu sempre frequentava o serviço dela nos meus intervalos da escola. Tenho esses nomes todos conhecidos e alguns em lembrança remota. Gostaria de saver se nas vossas recordações têem fotografias dela juntamente convosco.
Muito obrigado e espero que me respondam. Um abraço. Kanimambo
luis.figueiredo@cmviseu.pt
Trabalhei no SNECI quando terminei os estudos. Foi o meu primeiro emprego e durou de 1952 a 1955. O posto de trabalho da D. Fernanda, sua Mãe, era no balcão de atendimento, logo à entrada da secretaria. Por detrás dela estava a dactilógrafa, D. Cacilda, uma velocista como não havia outra igual a dedilhar o teclado. O Ferrinho estava no atendimento telefónico e entrada de correspondência. O Serrão andava por todo o lado bem como eu, substituindo e tapando todos os que faltavam ou entravam de férias. Todavia o meu posto de trabalho era na Quotização onde estava sediado. O Almeida, guarda-livros, esta no meio da sala, era uma espécie de vice-chefe de Secretaria. Ao lado dele estava o Armando Lima de Abreu, no sector das Carteiras Profissionais. Num fila atrás sentava-se o Torre do Vale, responsável pelo Bar e Sala de Jogos no rés do chão. Não fazia nada a não ser repetir as listas do stock do Bar. Pela Caixa passávamos todos sendo permanente um moço que era uma fera a jogar bilhar, cujo nome esqueci. Quanto a fotos, naquela altura era raro alguém andar de máquina fotográfica a tiracolo…