
Selecção de Lourenço Marques e Sport Lisboa e Benfica. Agachados: Acúrcio Carrelo, José Lisboa, António Candeias, Perdigão, Vigílio Ferreira, Antunes, Barata, Almeida, António Souto, Fernando Cruzeiro, Joaquim Miguel, Francisco Velasco, Manuel Carvalho e, por detrás deste, o seleccionador Armando Lima de Abreu
Como prelúdio deste acontecimento histórico, a equipa do Sport Lisboa e Benfica, constituída por Barata e Antunes (GRs), Lopes, Cruzeiro, Lisboa, Perdigão, M. Almeida e Sousa Dias, deslocara-se a Moçambique, em 1953, a convite do Grupo Desportivo de Lourenço Marques, a fim de participar na inauguração do seu segundo recinto de patinagem. De acordo com as notícias da época, o mesmo teria «uma capacidade para 4000 pessoas, óptimas instalações para os jogadores, salas destinadas à secção de hóquei, massagistas e enfermaria, além dum bufete e magníficas instalações sanitárias».

SNECI, Campeões de Juniores. De pé, da esq: Sobral de Almeida, Jorge Cordeiro, Velasco. Agachados: Edward Warne, Marciano Nicanor e Augusto Marques.
As jornadas tiveram início no dia 18 de Junho, prosseguindo no dia 20 e 21, sendo este o dia em que o Benfica derrotou copiosamente o SNECI de que eu era componente. A partir desse momento, os acontecimentos do torneio enevoaram-se, pois a minha irmã mais nova faleceu, interrompendo, como é natural, a minha participação nos jogos da selecção. Além da grata recordação da presença do Sport Lisboa e Benfica no seu funeral, ficou uma simples página do Jornal União, do qual extrairei vários escritos e entrevistas dadas na altura, que duma forma premonitória, anteviam o futuro de alguns dos jovens praticantes locais.
Convém recordar que em 1949, aquando da visita da Selecção Nacional, campeã do Mundo, curiosamente para inauguração do primeiro recinto de patinagem do Grupo Desportivo, a maior parte dos atletas do SNECI eram juniores.

Inauguração rinque dos Maristas. De pé, da esq: António Souto, Cardoso e Eduardo Costa. Agachados: Velasco, Alberto Moreira e Amadeu Bouçós. Ausente: José Souto
A visita do Benfica, em finais da época de 1952/53, veio seguramente dar um impulso ainda maior à modalidade, com especial efeito na nossa equipa, a qual, na época seguinte, de 1953/54, com o regresso de António Souto, de Amadeu Bouçós e de Alberto Moreira, que andavam perdidos por outros clubes, impôs-se a todas equipas da cidade, incluindo o Clube Ferroviário, então campeão distrital.
Estavam dados os passos que levariam o SNECI a interromper a época 1954/55, em Abril, de modo a poder deslocar-se a Portugal, numa viagem a todos os títulos memorável.
Tanto quanto me recordo, a notícia da digressão chegou sem grande alarido, causando, contudo, bastante alegria e agitação no plantel do SNECI. Os atletas reuniram-se com frequência, falou-se da questão de reforços que estavam a ser aventados por uma ou outra voz, tendo sido equacionada a hipótese de jogadores metropolitanos, de créditos firmados, que militavam no Ferroviário, poderem ser incluídos. Mas houve um consenso entre todos do plantel de que a equipa deveria ser constituída por atletas feitos em Moçambique, o que fazia sentido. Discutiu-se esta questão durante dias, pois era óbvia uma certa resistência da parte de alguns atletas, uma vez que qualquer reforço externo implicaria a exclusão de alguém da casa.

Grupo Desportivo de L.M. De pé, da esq: Mário Lisboa, Garradas Domingues, Fernando Adrião. Agachados: Romão Duarte, Gabriel e Menezes
A equipa do SNECI possuía então cinco fortes jogadores e a necessidade de acautelar substituições era evidente. Foi minha firme opinião na altura, e isso em boa hora, que a ingressar alguém no grupo deveria ser o Fernando Adrião o qual, a meu ver, apesar da diferença de idades, apresentava uma notável capacidade como jogador. A sua paixão pelo hóquei levara-o, aos quinze anos, a disputar a posição de médio na equipa do Desportivo, lugar ocupado pelo Mário Lisboa.
Com a sua inclusão no plantel do SNECI, iniciou-se uma amizade e um entrosamento fortíssimo que perdurou durante os anos em que jogámos juntos, ao serviço da Selecção Nacional.
Extraordinário foi o facto que, praticamente um ano depois da digressão, por força das circunstâncias, cortámos os cordões umbilicais e dispersámo-nos. Eu fui militar na Lusalite da Beira, na época de 1955/56, após o que regressei a Lourenço Marques, iniciando a época de 1956/57 no Clube Ferroviário, o qual, na época seguinte passou a contar com o Alberto Moreira. Os Soutos e o Bouçós tinham permanecido no SNECI e o Adrião ingressara no Clube Desportivo da Malhangalene e passámos então a jogar uns contra os outros, competindo duramente, sem nunca termos enfraquecido os laços cimentados durante a digressão efectuada por Portugal.
Com a experiência ganha em tantos jogos realizados na metrópole, de Norte a Sul, vencendo e perdendo, maturamos exponencialmente e, num futuro próximo, uma vez seleccionados para eventos internacionais, éramos como irmãos, a quem se juntaram o Edgar e logo a seguir o Vaz Guedes e o Livramento, e os grandes companheiros Trabazos, Mário Lopes e Perdigão, Matos e Bernardino, Alves e Virgílio, Vitor Domingues, Pompílio e Rui Faria, Leonel, Manuel Carrelo e Licínio. A própria Selecção Nacional transformou-se numa irmandade, inicialmente moldada pelo seleccionador Emídio Pinto, durante o Mundial de 1958, no Porto e que permaneceu sólida com António Raio e Jesus Correia, em posteriores eventos.
Para podermos fazer uma ideia do esforço e sacrifício exigido durante a digressão do SNECI por terras de Portugal e o modo como fomos solicitados até ao limite, descreverei o programa realizado. É fácil reconhecer que só a capacidade atlética de todos nós pôde suster a avalanche de jogos, intercalados por viagens contínuas no Norte, para cima e para baixo, deste para o Centro, de regresso ao Norte, descida ao Sul, retorno novamente ao Norte, visitas a entidades e a clubes, idas a locais de interesse histórico, fábricas, estaleiros navais, almoços gentilmente oferecidos…
Não acredito que hoje fosse possível planear algo semelhante, pois o sucesso da digressão, bem badalado pelos jornais desportivos e pela rádio, levou a curiosidade dos clubes de várias cidades e vilas a desejarem que fôssemos lá jogar. Fizemos os primeiros 9 jogos no Norte em 12 dias, o que representou efectuar 3 jogos em cada 4 dias, tudo vitórias, com o seguinte resultado global: 84 golos marcados pelo SNECI e 16 sofridos.
No sul, contra equipas mais traquejadas e dado o cansaço já evidente na nossa equipa, as derrotas teriam de aparecer, sem com isso procurar menosprezar o valor dos adversários, que se mostraram realmente superiores.
Nesta última fase, com um regresso ao Norte para um empate e nova descida ao Sul para uma vitória, verificou-se um agregado de resultados que mostram 22 golos marcados pelo SNECI e 24 sofridos em 4 jogos. A digressão saldou-se com um total de 106 golos a nosso favor contra 40 marcados pelos adversários.
Só em Lisboa é que começámos a protestar, não contra o programa de jogos que adorávamos realizar, pois esse era o objectivo primordial, mas sim contra as inúmeras visitas oficiais e almoços, sempre desgastantes, somados a um posterior alheamento de alguns dirigentes.
Todavia, esta primeira visita duma equipa de hóquei em patins a Portugal saldou-se indiscutivelmente por um enorme sucesso tendo surpreendido e entusiasmado todos que a viram jogar. Para culminar, e possivelmente como forma de incentivo, tanto eu como o António Souto fomos indigitados para acompanhar a Selecção Nacional que se preparava para disputar o XIº Campeonato do Mundo em Itália, onde fizemos a nossa estreia pela selecção, num jogo realizado em Modena.
Claro que ambos sabíamos que não participaríamos no Mundial que teve lugar em Trieste e em Milão o que, diga-se de passagem, teve o condão de nos permitir uma visão tranquila dos jogos. Portugal não ficou bem classificado nesse ano, apesar de ter nas suas fileiras os nomes mais sonantes da época, Matos e Magalhães, guarda-redes, Edgar, Raio, Cruzeiro, Perdigão, Lisboa, Jesus Correia e Correia dos Santos e António Figueiredo. Ganhou a Espanha e o 2º lugar foi para a Itália, mas uma figura sobressaiu como um gigante acima dos demais: a de Fernando Cruzeiro, o médio de mais categoria a actuar na Europa.
Uma nota curiosa, na altura, tanto eu como o António Souto, mal imaginávamos, que a Selecção de Espanha, constituída por Zabalia e Largo, guarda-redes, Orpinell, Boronat, Puigbó, Gallen, Serra e Trias, vencedora deste mundial que tínhamos assistido, seria a mesma que dois anos mais tarde acabaria por ser derrotada pela de Lourenço Marques, por 4×3 e 5×1, em duas partidas históricas que nos catapultaram para o cenário internacional.
Diário da digressão, baseado no Boletim do SNECI, ano 4 – nº 7, de Abril/Junho do mesmo ano
Abril
Dia 2 – Visitas de agradecimento ao Ministro do Ultramar, Comandante Sarmento Rodrigues, ao Secretário-Geral da Província, Dr. Juvenal de Carvalho e às firmas Zuid-Phillips e Coca-Cola.
Dia 3 – Partida de Lourenço Marques, às 3 horas da madrugada num «Skymaster» da TAP, comandado pelo Capitão Canelhas. A lotação do aparelho estava quási esgotada desaconselhando o voo directo a Luanda pelo que rumamos para Livingston onde fomos abastecer. Esta circunstância permitiu-nos apreciar, durante algum tempo, um dos mais belos espectáculos do Mundo: as quedas de água de Victoria que vistas do ar são magnificentes. Fizemos escalas normais em Luanda e S. Tomé, aterrando depois em Niamey e Aoulef, no deserto. Ninguém dormiu.

Chegada a Lisboa. da esq.: Fernando Adrião, José Souto, Joaquim Saraiva, António Souto, Francisco Velasco e Amadeu Bouçós
Dia 4 – Chegámos ao aeroporto da Portela de Sacavém de manhã, fizemos uma fotografia e como havia um programa a cumprir, deixámos as malas no hotel e partimos para cumprimentar o Sub-secretário da Educação Nacional, na ausência do titular da mesma pasta e o Director-Geral dos Desportos. Seguiu-se um almoço que Fernando Ramos, então presidente demissionário da Associação de Patinagem do Sul, que teve lugar na Adega do Mesquita, no Bairro Alto. Nessa tarde inscrevemo-nos no livro de cumprimentos ao Chefe de Estado, deixámos cartões ao Presidente do Conselho e fomos cumprimentar os senhores Ministros do Ultramar e das Corporações e Sub-secretário do Ultramar. Terminámos pela noitinha na sede do Sport Lisboa e Benfica cujos dirigentes quiseram retribuir a recepção que o SNECI lhes fizera aquando da sua visita a Moçambique.
Dia 5 – Partimos para o Porto onde fomos recebidos apoteoticamente na Gare de S. Bento, pernoitando e seguindo depois para Braga.
Dia 6 – Em Braga, fomos recebidos pelas autoridades mais destacadas, Governador Civil, Presidente da Câmara Municipal, etc, bem como por desportistas e público em geral. À noite, no Estádio «28 de Maio», na nossa estreia, defrontámos a Selecção do Minho que vencemos por 10-1.
Dia 7 – Visita ao Sameiro e ao Bom Jesus, assistimos às festas da Semana Santa e à procissão do ECCE HOMO.

Visita ao Estádio 28 de Maio. Da esq.: A. Souto, Lelito, Adrião. Agachados: Moreira, J. Souto, Bouçós e Velasco
Dia 8 – Chegámos a Viana do Castelo e à tarde visitamos Santa Luzia e os estaleiros navais e um barco lá construído para apoio da frota bacalhoeira. Também fomos recebidos pelo Governador Civil e pelo Presidente da Câmara Municipal que de dignou presidir a um banquete em nossa honra. Á noite, enfrentámos a equipa do Sport Clube Vianense tendo vencido por 9-0.
Dia 9 – Deslocámo-nos agora para Guimarães. Visitámos o Castelo onde fizemo-nos fotografar junto à estátua de Afonso Henriques. De seguida fomos recebidos na Câmara Municipal cujo vice-presidente nos honrou presidindo ao jantar oferecido no alto da Penha. Defrontámos depois, à noite, um misto Guimarães-Taipa que vencemos por 10-1.
Dia 10 – Regressámos ao Porto onde passámos o Domingo de Páscoa.
Dia 11 – Viajámos para Aveiro onde se juntaram a nós os três jogadores suplentes que na semana anterior não tinham podido vir connosco por falta de lugar. Fomos recebidos pelo Governador Civil e pelo presidente da Câmara Municipal após o que fizemos um passeio de lancha através da Ria, até à Casa-Abrigo da Mata onde merendámos. Seguiu-se uma recepção na sede do Clube dos Galitos cuja equipa, à noite, saiu copiosamente derrotada por nós por 17-0.
Dia 12 – Regressámos ao Porto. Visitámos o Centro Universitário, o Estádio Universitário e o Pavilhão dos Desportos, ainda em construção, onde existira o velho Palácio de Cristal. Além destas ainda visitámos as caves Borges & Irmão, Lda, em Vila Nova de Gaia e a Empresa Fabril do Norte, na Senhora da Hora.
Dia 13 – À noite, no recinto do Lima, com a sua capacidade superlotada, vencemos o Estrela Vigorosa por 4-0, jogo a contar para o primeiro Torneio Quadrangular disputado pelo SNECI.

Estrela Vigorosa vs SNECI. – Da esq., de pé: Carlos Ponte, Armando Cabral de Almeida, Adriano Pimenta, Fernando Adrião, José Souto, Fernando Ranito, Francisco Velasco, Manuel Sepúlveda, Amadeu Bouçós, Ireneu Moreira. – Agachados: João Andrade, Salvador Calado (GR), Carvalho e Castro (GR), Alberto Moreira (GR), João Ranito (GR), António Souto e Fernando Andrade.

Fernando Ranito, que veio relembrar este jogo do passado e gentilmente ceder a foto acima, tirada após o encontro.
Dia 14 – À noite, derrotámos o Infante de Sagres por 4-1, ganhando o torneio quadrangular e uma das mais valiosas taças conquistadas na Metrópole.
Dia 15 – Dia de descanso.
Dia 16 – Chegada a S. João da Madeira. Recebido mais uma vez de modo apoteótico na Câmara Municipal, com foguetes, parada de bombeiros, da Legião e da Mocidade Portuguesa e banda de música. De tarde visitámos a fábrica de máquinas de costura «Oliva», a fábrica de calçado «Nilo» onde nos obsequiaram com um porto de honra e calçado da indústria local e a «Empresa Industrial de Chapelaria, Lda». À noite, batemos a equipa do Sanjoanense por 6-3, após uma partida muito renhida.
Dia17 – Partimos para Coimbra onde tivemos meio-dia para visitar a Sé Velha, a Câmara Municipal e a Sala dos Capelos da Universidade. À noite defrontámos a Selecção de Coimbra que vencemos por 9-2.
Dia 18 – Rumámos para Oliveira de Azeméis, tendo sido recebidos pelo presidente da Câmara Municipal. Visitámos o Centro Vidreiro, propriedade de Júlio Mateiro, assistindo à fabricação de vidro. À noite vencemos a equipa da Escola-Livre local por 12-5
Dia 26 – De regresso a Lisboa, após uma semana (cujas recordações se esvaíram), jogámos no Pavilhão dos Desportos, contra o Clube AtléticoCampo de Ourique, campeões nacionais, com reduzida assistência, dado o fogo de artifício que iria verificar-se no Parque Eduardo VII, em honra do Presidente Café Filho, do Brasil. Neste jogo, ensombrado pela anulação dum golo no último minuto, que nos daria um empate, ainda fizemos uma recuperação nos últimos nove minutos, de 1-6 para 5-6 que foi o resultado final.
Dia 27 – Fomos recebidos pelo Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar, na sua residência, acompanhados pelo sr. Ministro do Ultramar.
Dia 29 – Neste dia, fomos recebidos pelo Presidente da República, General Craveiro Lopes e à noite, com o Pavilhão dos Desportos a deitar por fora, com a presença do Ministro do Ultramar e do Director Geral dos Desportos, disputámos um jogo memorável, contra o Sport Lisboa e Benfica, o melhor disputado na Metrópole, tendo perdido por 3-6.
Maio

Seleccionados para Itália. De pé, da esq: Fernando Cruzeiro, Jesus Correia, Tito Moreira Rato, (?), (?), (?), Magalhães e Velasco. Agachados: Matos, Lisboa, Figueiredo, Raio, Correia dos Santos, Edgar, António Souto e Perdigão
Dia 1 – Jogo em Sintra, onde perdemos com o Hockey Club de Sintra4-6. por
Dia 2 – Fomos ao aeroporto da Portela assistir à partida do Chefe do Estado, acompanhado do Ministro do Ultramar, para a sua segunda viagem ao Ultramar e, pessoalmente, um por um, despedirmo-nos do General Craveiro Lopes e Comandante Sarmento Rodrigues.
Dia 5 – Viajámos para o Norte a fim de defrontar o Clube Académico do Porto tendo empatado 3-3.
Dia 9 – Regressámos ao Sul para o jogo contra a Associação Académica da Amadora que vencemos por 10-6.
Dia 10 – Francisco Velasco e António Souto partem para a Itália.
Dia 14 – A equipa do SNECI chega a Moçambique.
Dia 28 – Francisco Velasco (Xico Quinas) e António Souto (António Milão) regressam a Moçambique.
Nota: – As recepções e visitas foram numerosas, desde as efectuadas ao Ministro do Ultramar, Ministro da Educação Nacional, Dr. Marcelo Caetano, Presidente da Câmara Corporativa, Agente Geral do Ultramar, às que foram feitas a diversos Sindicatos. Um especial destaque para a Casa dos Estudantes do Império, nossa falange de apoio na Metrópole. Visitámos a União de Grémios dos Lojistas de Lisboa. A registar também a visita demorada e detalhada da obra Castelo do Bode.
Os Amigos em Portugal:
– Fernando de Barros de Vieira Ramos
(Do Boletim nº 7, ano 4, Abril/Junho de 1955, do SNECI)
«Com propriedade de pode afirmar que pela mão de Fernando Ramos entrámos em Lisboa como pela sua mão deixámos a Capital.
Fernando Ramos figura que impõe pela sua radiante simpatia, pela sua presença pelo seu fino trato e ainda pelas suas grandes qualidade morais, figura marcante na sociedade portuguesa, era o presidente da Associação de Patinagem do Sul aquando da nossa chegada a Lisboa.
A ele verdadeiramente se devia o acordo, pela forma como foi levado a cabo, entre as associações de patinagem da Metrópole, para a deslocação da equipa de hóquei do SNECI.
Fernando Ramos que nos aguardava à nossa chegada à Portela de Sacavém, acompanhou-nos nas visitas oficiais desse dia e ofereceu-nos a primeira refeição em terras do Continente; com ele almoçámos na Adega do Mesquita, onde passados precisamente oito dias levaria os nossos três suplentes que no avião seguinte haviam seguido: Cabral de Almeida, Carlos da Ponte e Salvador Calado.
Estava já demissionário do seu cargo quando nos recebeu em Lisboa como o estava o Dr. Rogério Ribeiro, presidente da A.P.N. quando no Porto nos recebeu. No nosso regresso a Lisboa, já então abandonara, a seu pedido, a presidência da A.P.S., não esmoreceu o seu interesse pelos nossos atletas.
Além de outras atenções que jamais esqueceremos, proporcionou-lhes o assistirem a uma noite ao espectáculo do moderno Teatro Monumental, em que se apresentava «A Severa», com Amália Rodrigues, como passados dias proporcionava à nossa Embaixada uma minuciosa visita a essa obra imensa que é o Castelo do Bode, com almoço na atraente Estalagem no Parque de Tomar.
Finalmente quis ainda Fernando Ramos que com ele tivesse lugar a nossa última refeição na Metrópole e assim ofereceu à nossa Embaixada, no dia da partida, um grandioso almoço no luxuoso ambiente de Montes Claros.
Durante a nossa permanência em Lisboa compareceu a nossa Embaixada em massa, ao muito concorrido banquete que, desportistas, amigos e admiradores, ofereceram a Fernando Ramos e ao Dr. Santos Pinto que até então e com o maior desinteresse e competência tinham presidido às direcções da A.P.S. e da F.P.P., respectivamente.
Na primeira sessão deste Conselho Geral, após o nosso regresso do Continente, foi por unanimidade deliberado fazer exarar na respectiva acta um «voto de louvor e agradecimento ao Sr. Fernando Ramos, não só pela sua valiosa intervenção no sentido de ser aceite na Metrópole pelas entidades responsáveis pela modalidade, a nossa deslocação, pela forma como teve lugar, como ainda pelo apoio imenso, provas de carinho e interesse demonstradas durante a nossa estadia na Metrópole, e que tornaram esta tão agradável». Mais ainda ficou ainda deliberado dar o nome de Fernando Ramos a uma das taças a ser disputada no nosso festival de hóquei no final da época».
– Fernando Gouveia da Costa
– Artur Ferreira Gonzaga da Silva
(Do Boletim nº 7, ano 4, Abril/Junho de 1955, do SNECI)
«De muitos nomes, de todos aqueles a quem na Metrópole ficámos devendo inúmeras atenções, devemos destacar os nomes de Fernando Gouveia da Costa e de Artur Ferreira Gonzaga da Silva, que alheios à F.P.P. ou à F.P.S, apenas indicados para fazerem parte da comissão de recepção, por Fernando Ramos ao tempo presidente da A.P.S., foram de uma amabilidade, de uma constante atenção, prestando-nos a sua assistência a todo o momento.
Para tanto sacrificaram tudo e todos, família e vida profissional, durante a nossa permanência na Capital.
Gouveia da Costa sacrificando até os seus rapazes do hóquei do «Ateneu» de que é entusiasta sem limites, e que tanto devem ao seu espírito dinâmico e seu conhecimento da modalidade.
Julgamos que mais não lhes podemos dizer do que garantir-lhes que deixaram em cada um de nós – componentes da Embaixada – um verdadeiro Amigo».
– Dr. Orlando de Albuquerque
(Do Boletim nº 7, ano 4, Abril/Junho de 1955, do SNECI)
«Pela mala pelo próprio avião que nos havia de conduzir à Metrópole, recebemos do Dr. Orlando de Albuquerque, médico natural de Lourenço Marques e actualmente exercendo a sua actividade em Lisboa, uma amável carta oferecendo obsequiosamente os seus préstimos durante a estadia da nossa Embaixada na Metrópole.
Tendo tido conhecimento da deslocação dos nossos atletas à Metrópole, como filho de Lourenço Marques e como frequentador das nossas instalações desportivas quando aqui viveu, muito gostosamente punha os seus serviços clínicos à nossa disposição.
Tiveram os nossos rapazes ocasião de utilizar os serviços do Dr. Orlando de Albuquerque, que durante a nossa estadia em Lisboa foi de uma solicitude e de um carinho, que aqui desejamos deixar registados devidamente com a renovação dos nossos agradecimentos.
Na véspera da nossa saída de Lisboa, no nosso hotel e na maior intimidade, tivemos ocasião de homenagear por forma bem singela mas não menos sincera o Dr. Orlando de Albuquerque.
Mas de todas as nossas provas de reconhecimento a que seria certamente mais grata ao seu coração é a afirmação sincera de que em cada componente da nossa Embaixada deixou ele um verdadeiro amigo.
. . .
De regresso a Lourenço Marques fomos portadores de uma carta do Dr. Orlando Albuquerque para o seu colega e médico do SNECI, com data de 11 de Maio de 1955.
Devidamente autorizados pelo destinatário desta carta transcrevemos parte do seu conteúdo e fazêmo-lo com sincera alegria:
«Quanto ao mais devo dizer-lhe que me sinto honrado e orgulhoso em ter estado em contacto com eles e ter-lhes sido útil.
Já não é a primeira vez que presto assistência a desportistas e, devo dizer-lhe, que nunca encontrei, na Metrópole, rapazes que tão bem honrassem esta designação. Com gente assim vale a pena trabalhar e, o que é mais, pode-se confiar.
Peço que transmita a quem de direito as minhas palavras e louvores, para estes rapazes que tão briosos e dignos foram e que, portanto, são dignos de todos os encómios e merecedores de todos os agradecimentos.»
Trata-se de mais uma prova insofismável e manifesta da correcção dos nossos atletas, prova que nos é imensamente grato registar neste número dedicado à nossa digressão à Metrópole.
Magnífico site, não sei porque um tanto lento no meu (decrépito) computador.
Não sei se viu esta foto, com que me cruzei:
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/arkidigi/mem_aveiro/Clube%20Galitos/hoquei/1955/01_1955_FestivalHoqueiEquipas_SNECI_Galitos.jpg
Grande campeão. Os meus respeitos.
Caríssimo Botelho de Melo
Obrigado pelo mimo.
Computadores decrépidos e lentos são como nós… que envelhecemos e abrandamos.
Já tinha visto a foto, acho que tenho uma idêntica, que me foi gentilmente enviada e que em devido tempo aparecerá nesta página do SNECI. O problema é que tenho um arquivo que é um autêntico «buraco negro» e, apesar de ter um PC rápido, tenho de encontrá-la primeiro até porque é histórica pois ganhámos esse jogo por 17-0.
Um grande abraço
Olá ABM , feliz de ver os nossos e um grande campeão parabéns amigo ! Beijo.
Ola estimado Francisco,
Por coincidencia, nao so visitei Aveiro e o Clube dos Galitos ha umas semanas atras, pagiei recentemente pelo Site do Clube dos Galitos no qual fui socio e onde participei na seccao de xadrez de finais da decada de setenta ate principio da de oitenta (basta ‘clicar’ Os Galitos na Google e ir aos links e utilidades do site do Clube) e tive uma agradavel surpresa em encontrar no arquivo de Hoquei (anos ’50) a digressao de 11 de Abril de 1955 e que resultou no tal score 0-17 a favor do SNECI.
Segundo me recordo na altura em que fiz parte do Clube dos Galitos constava-se que o fecho da seccao de Hoquei podera’ ter tido origem nessa altura, juntamente com a fuga gradual do melhor talento para a Sanjoanense. De qualquer maneira o Hoquei desapareceu da Cidade de Aveiro a partir do final dos anos cinquenta.
Se a goleada teve um efeito negativo ou nao e’ dificil defenir, mas o melhor seria terem existido circumstancias que ajudassem os carolas ‘Ceboleiros’ terem decedido continuar com uma modalidade que hoje poderia ser tao orgulhosa como o remo ou a natacao tem sido para Os Galitos.
Mas enfim, e’ a vida e paciencia.
Um abraco
Ze’ Carlos (JNB)
Caro Zé Carlos.
Devo-lhe uma resposta ao seu último e-mail que requer uma reflexão. Contudo não quero deixar sem comentar esta sua intervenção. Não creio que os Galitos tenham desaparecido por causa deste resultado. Sucede que nessa digressão do SNECI, a nossa equipa apresentou um tipo de hóquei que surpreendeu meio mundo. A Improvisação total por nossa parte, alicerçada numa condição física excelente e elevados níveis de técnicas individuais, criava grande confusão aos adversários. Nesse caos gerado, sobreviveram os mais bem apetrechados e criativos. Aliás, uma leitura da página SNECI em Portugal dá uma clara ideia duma digressão também improvisada, quando em 35 dias realizámos 14 jogos, (quase um jogo em cada dois dias), com viagens para baixo e para cima, visitas oficiais, almoços e outras manifestações. No Norte, em 10 jogos, marcámos 8,4 golos por partida e os nossos oponentes 1,6.
Vou dar uma vista de olhos no Google em busca do Galitos e procurar o arquivo dos anos 50, como sugeriu.
Um abraço
Foi com uma enorme alegria que pude ler tudo isto, àvidamente e saudosamente. Eu fiz parte da Comissão de Recepção, organizada pela Associação de Patinagem do Norte e, além disso fiz parte da equipa do Vigorosa que perdeu por 4×0 no Lima com o SNECI. E podiam ter sido mais… Privei especialmente com o Francisco Velasco, embora já conhecesse o Bouçós de quando jogou no Académico. Aliás, o Velasco foi um dos maiores jogadores que vi em toda a minha vida. Para mim, superior, em aspectos importantes, ao Adrião . Um Atleta exemplar, pela lealdade que punha em jogo.
Uma abraço grande!
Caro Fernando Ranito
Esta mensagem teve o condão de reavivar lembranças que me são caras. Especialmente porque foi no Norte o nosso primeiro contacto com a Metrópole que, com excepção do Bouçós, nenhum de nós conhecia. Surpreendemos e fomos surpreendidos pelas calorosas recepções, carinho e amizade que nos proporcionaram. Os jogos, esses, primaram todos por inexcedível correcção e a Digressão foi de facto um sucesso sob todos os aspectos. Do Ranito gostaria de obter uma foto pessoal e uma outra da vossa equipa que defrontámos, legendada. Se for possível, também uma lista dos membros da Comissão de Recepção da Associação de Patinagem do Norte, pois teria gosto de inseri-las neste artigo, para a posteridade.
Grato pelos piropos, o “maior”, certamente, em altura…!
Sempre ao dispor, (chico.velasco@gmail.com), vai um forte abraço.
Muito bem enquadrada, a fotografia, Senhor Administrador!
Vou mandar-lhe uma fotografia do Fernando Ranito velho…