Preparação das Equipas

Considerações gerais

A preparação de qualquer grupo (masculino ou feminino) de atletas requer, à partida, o controlo e a coordenação de um sem-número de aspectos importantes. É uma acção, ou um conjuto de acções, numa vasta frente, que não se limita ao que acontece no rinque nos dias de treino.

Realçando o mais importante, é absolutamente fundamental que à volta da equipa, isto para além da existência duma Secção Desportiva devidamente organizada, subsista uma atmosfera de genuína amizade, simpatia e apoio.

O/a atleta, desde que calça os patins pela primeira vez, miúdo/a que seja, gosta de ser reconhecido/a pela melhoria das suas habilidades e busca no Treinador um sinal de ânimo ou de aprovação. Ele/ela é sempre o centro de tudo e é mesmo muito negativo que alguns treinadores não se apercebam disso. Por outro lado, quando vai crescendo e já em escalões superiores, o/a atleta espera que o seu contributo dado ao Clube, não passe despercebido, pois é indiscutível os sacrifícios pessoais e esforços físicos que é levado/a a fazer, não só para seu bem próprio, mas também pela modalidade.

Mas o/a atleta não é o único/a que faz sacrifícios, Treinadores, Dirigentes, (especialmente estes), e outros, dedicam-se com a mesma intensidade à resolução de problemas, de modo a que os objectivos propostos possam ser atingidos. Pena é que dos seus esforços e experiências, nada tenha ficado registado para a posteridade. Esfumaram-se com as suas saídas e década atrás de década recomeça-se o mesmo ciclo vicioso.

Uma Secção Desportiva, chamar-lhe-ia mais adequadamente, um Departamento Técnico, na sua “estrutura orgânica”, devia ramificar-se em dois Sectores essenciais: a Escola e o Sector Equipas, sob o comando dum Treinador/a Principal, responsável por ambos os sectores.

Criando-se depois um Grupo Dirigentes, um Grupo Treinadores/as e um Grupo Atletas, este sub-dividido em masculino e feminino, seria a única maneira de impulsionar e de se controlar, de forma dinâmica, o desenvolvimento da modalidade e evitar-se-iam as tão anómolas “capelinhas” que proliferam pelos Clubes, onde cada cabeça… uma sentença.

Devo dizer que introduzi este tipo de organização num clube local, durante meia dúzia de meses, com total e prévia aprovação da direcção do Clube, com o empenhamento dos Dirigentes de todos os escalões etários, o que me surpreendeu bastante, pois antecipara erradamente que eles seriam um obstáculo. Todavia, todas estas boas intenções feneceram dada resistência feroz e dramática da maioria dos treinadores. Claro, teriam de se desnudar perante o Treinador Principal, cuja missão era ajudá-los, e isso seria muito mau para as suas reputações e os tais “segredos dos deuses” que carregam.

Mas não se perdeu tudo, ficaram os meus arquivos que servirão para suportar uma descrição neste Site, mais adiante, de como se poderia organizar, em moldes modernos, um Departamento Técnico que servisse de modelo experimental. Acredito que será  sempre melhor ter um modelo qualquer, do que nenhum.

Não derramarei mais água sobre o chovido e passarei adiante.

Análise das acções e reacções dos jogadores

Para efeitos de uma posterior aplicação táctica, é essencial o conhecimento das tendências naturais e forçadas dos jogadores/as, quando actuam no campo.

Mas antes de entrarmos na matéria própriamente dita, cumpre esclarecer que daremos aqui, às palavras movimento e acção, um significado convencional, a seguir expresso, mas cuja validade se cinge apenas ao contexto deste trabalho, pois existe terminologia desportiva para essas palavras tais como circulação, gesto desportivo, etc.

Movimento é a deslocação que o jogador/a efectua sobre a pista de jogo, sem bola.

Acção é a tentativa feita pelo jogador/a na posse da bola, de incursão, de drible, de passe, de seticada ou de retenção do esférico. A acção será a prática concreta do hóquei e o movimento será o apoio subjectivo a essa mesma prática.

Exemplificando, não há dúvida de que, se um/a defensor/a isolado/a é atacado/a por um jogador/a, ele/ela concluirá que o/a atacante só poderá driblá-lo/a ou seticar rente às pernas. Todavia, se um/a colega do/a atacante, fizer um movimento simultâneo, acompanhando-o/a, o/a defensor/a adiciona mais uma dúvida, pois agora existe a opção dum passe. Foi undubitavelmente um apoio muito importante no desenvolver da jogada.

A acção, portanto, é uma pressão física directa e o movimento, neste caso, uma pressão mental indirecta. E a todos movimentos e acções correspondem invariavelmente contra-movimentos e reacções por parte dos adversários/as, permitindo assim estabelecer certas leis gerais que caracterizam a conduta dos jogadores/as.

Nota importante: Nos parágrafos anteriores, utilizei barras (/) para indicar que não estou a ser discriminatório em relação ao Hóquei Feminino e que tudo quanto escrevo neste Site, em termos de técnicas e tácticas,  se aplica na íntegra ao sexo “fraco?“, tendo em consideração as óbvias diferenças biológicas e físicas. Mas a partir deste ponto, por razões meramente práticas, a linguagem será no masculino.

Assim:

– Quando um jogador segue pelo eixo longitudinal (fig.1), os dois avançados oponentes fecham (fig.2), abrindo dois corredores laterais.

– A tendência natural do atacante é tentar esgueirar-se junta da tabela (fig.3) mas os avançados oponentes tendem a barrar-lhe o caminho e cria-se um espaço vazio lateral.

Esquema A

– Se um atacante, na posse da bola, se introduz no meio do “quadrado” defensivo (fig.4), os quatro defensores tendem a convergir sobre ele (fig.5), e cria-se agora, uma área vazia envolvente, “meio-elíptica”.

– Dum modo geral, o “quadrado” defensivo amedronta o atacante que vai pelo lado mais fácil, sem barreiras (fig.6), acabando por ir parar atrás da balisa, se é que não seticou antes, sem ângulo, mais por desespêro do que sensatez.

Esquema B

O Rinque e as Linhas dum Sistema

O rinque é uma superfície plana, não escorregadia, de mais ou menos 40×20 metros, contruída com os mais diversos materias, cimento, mozaicos, “parquet”, tábuas de madeira e acabamentos sintéticos, delimitada por tabelas. Nesta área de 800 metros quadrados, decorrem todos os movimentos e acções que definem a modalidade de Hóquei em Patins.

Podemos imaginar um único patinador com bola sobre a pista e a possibilidade de se deslocar em qualquer sentido e finalmente parar defronte da baliza e seticar. Todavia, se ele faz parte duma equipa de hóquei e no outro lado do campo se encontra o adversário, é evidente que já não pode movimentar-se para e por onde quiser. O adversário barra-lhe o caminho e só onde ele não se encontra é que se começam a definir os trilhos mais percorridos durante os jogos.

Um hoquista de pé e parado, isto é, mantendo um taco de apoio no mesmo sítio, varre fácilmente com o setique um meio círculo de 1,5 m de raio. Sem sair do lugar,  flectindo um joelho e esticando-se como num bote de esgrima, cobre outro meio círculo, agora de 3,0 m. Se rodopiar, podemos considerar que, por onde quer que se desloque, leva consigo, como uma sombra, um círculo de raio igual a 2,0 e 3,0 m, onde a sua intervenção instintiva é bastante eficaz.

Áreas de alcance dos jogadores e Linhas do Sistema

Assim sendo, os atacantes que tentam aparecer defronte da baliza, ao enfrentarem tais círculos defensivos, dispostos lado a lado, só poderão torneá-los ou patinar por entre os mesmos. Se analisarmos os trilhos, acabaremos por determinar um círculo maior que toca num menor, mais ou menos no centro do “quadrado” formado pelos defensores.

Ora, por uma questão de geometria, espelhando os trilhos, podemos avançar que a figura resultante representa as Linhas dum Sistema, neste caso, do Carrossel, sobre as quais deverão ser efectuados todos os exercícios que constem da preparação dos hoquistas. A razoabilidade desta figura deverá ser explicada a partir dos escalões etários mais jovens de modo a que permaneça nos seus subconscientes quando em idade adulta.

Escusado será dizer que as Linhas do Sistema funcionam na prática como um acordeão, achatando os círculos em elipses, conforme o decorrer dos movimentos e acções.

Ataque e Contra-ataque. Definições

Ao reduzirmos a uma expressão simples, todo quanto acontece dentro do campo, concluiremos que os dois únicos modos de actuação, são o ataque e o contra-ataque.

Ao perder a bola, os componentes da equipa retornam ao seu meio campo, assumindo posições defensivas e aguardam por uma acção por parte do adversário.

Essa acção, normalmente um esforço colectivo, só pode ter a forma do que, geralmente entendemos ser um  ataque, isto é, um assalto ao reduto oponente, quando todos os atacantes conjugam movimentos e acções de modo a superar a resistência encontrada.

Á tentativa individual de ultrapassar esse reduto, convencionaremos dar-lhe o nome de incursão, que não será bem um ataque mas sim um acto de presunção, de desepero ou estupidez. Curiosamente, por vezes resulta, dado o inesperado da acção, mas na maior parte das vezes, essas incursões fracassam em face da esmagadora inferioridade numérica.

Quando os componentes duma equipa que acabou de perder a bola são apanhados a caminho das suas posições defensivas, está a verificar-se um contra-ataque por parte do adversário.

O contra-ataque é uma reacção instintiva. onde a rapidez é a característica dominante. Procura-se, repito, apanhar o adversário fora das suas posições normais de defesa e busca, acima de tudo, manter qualquer vantagem numérica. Contudo pode ser executado com qualquer número de elementos.

O ataque é uma acção que implica a participação de vários elementos da equipa, no mínimo três, num esforço físico e mental conjugado. De um modo geral é lento e, conforme vai progredindo, maior é a resistência que encontra, daí a necessidade de movimentos e acções pré-estudadas e treinadas, para ultrapassar o obstáculo de modo fulminante.

A não ser que a bola se perca nalgum canto, ou o árbitro interrompa a partida, a dinâmica desta modalidade proporciona um ritmo veloz de contra-ataques versus ataques e contra-ataques versus contra-ataques, muito do agrado dos espectadores.

Finalmente, por vezes, verifica-se dentro do campo, dissimulada sob a capa de ataque, que uma equipa envolve a outra sem outro intuito que não seja “matar” tempo. Como resultado, foram introduzidas regras que procuram eliminar estas acções de anti-jogo e julga-se que o problema esteja resolvido. Nunca concordei com a introdução da linha de anti-jogo, a não ser a que vigorou durante algum tempo, coincidente com a linha de grande penalidade. E, se as combati, foi por três razões:

– porque entendo que o desporto não se faz por decreto.

– porque o livro das Regras de Jogo, desde o meu tempo, já previa  penalizações para tal comportamento.

– porque conheço em detalhe a origem da célebre linha dos 22 metros, as motivações que as originaram e que procurarei descrever neste Site.

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