Uma carta datada de 22 de Julho de 1992, do meu amigo Fernando Barbot, recebida por mim em 28 de Maio de 2010 e que reproduzo na íntegra. O seu conteúdo foi transmitida em 24 de Julho de 1992, dia de Lourenço Marques, aos Moçambicanos presentes (cerca de 120) no Restaurante de Montes Claros (Monsanto) e lida por um antigo locutor da Rádio Moçambique.

Da esq. 1a. Fila: Artur Agostinho, Nelson Soromenho, Luis Lopes Serrão, ?, ?, esposa de António Souto a seu lado, esposa de Armando Ribeiro, Joaquim Saraiva. 2a Fila: ?, Fernando Adrião, ?, ?, Toninho Rodrigues, minha esposa Vivienne a seu lado, ?, ?, Garrada Domingues, ?. 3a Fila: Eng. Evaristo e, além destes só reconheço a minha pessoa, junto da parede..
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“Amigo Snr. Armando Ribeiro
Sabedor da “Festa/Convívio que vai ser proporcionada aos hoquistas Moçambicanos, não poderia de deixar de dizer “Presente” e de, por seu intermédio, lhes prestar a minha maior homenagem. Disse “Festa/Convívio” e “minha homenagem”, porque… lamentávelmente a Homenagem Nacional continua esquecida! O que, apesar de tudo, pouco me surpreenderá atendendo à vulgarização, nos dias de hoje, de uma palavra que, por razões de princípios e educação, jamais fez parte do meu “Diccionário”: INGRATIDÃO.

Mesa de Honra: “Capitão” Vasconcelos Porto, esposa do Eng. Jorge Jardim a ser cumprimentada e ao fundo, ?, Joaquim Saraiva e Armando Ribeiro, à sua frente, de microfone em punho.
Perdeu, sim, a Federação Portuguesa de Patinagem uma oportunidade única de o fazer durante o último Campeonato do Mundo realizado na cidade do Porto. E, penso que nenhum outro local seria mais apropriado para tal acontecimento! Ou não terá sido nesta cidade que em em 1962 (Campeonato Nacional). 1963 (Campeonato da Europa) e 1968 (Campeonato do Mundo), os hoquistas de Moçambique sentiram tantos e inesquecíveis momentos?

Monsanto com realce para os cabelos brancos de Acúrcio Carrelo e, atrás dele, ligeiramente à esq., o António Souto.
Os meus bons amigos Alberto Moreira e Acúrcio Carrelo, Manuel Carrelo, António Souto (como é possível nunca ter sido internacional?!, o malogrado Júlio Carneiro e outros, viveram, em 1962, a vitória do “Ferrobica“; em 1963, sagram-se campeões da Europa o Moreira, o Adrião, o Velasco e o Amadeu Bouçós; em 1968 e ainda na cidade do Porto, o Fernando é mais uma vez campeão do Mundo… sem esquecer que o Abílio Moreira e o Passos Viana, passaram grande parte das suas vidas na nossa cidade e que, ainda no Porto, teve o Alberto Moreira a sua festa de despedida!
Não estou, naturalmente, a prestar uma homenagem à cidade do Porto… porque se assim fosse, correria o risco de também esquecer (tal como a Federação Portuguesa de Patinagem) a verdadeira razão desta minha carta! E a tal hipotética injustiça também me perdoaria, porquanto os desportistas de Moçambique (hoquistas ou dirigentes) a esta cidade sempre estiveram “ligados”!
Com 10 anos de idade, (era o Snr. Armando Ribeiro e meu pai, em 1961, respectivamente, Presidente e Vice-Presidente da Direcção da Associação de Patinagem do Porto, ainda com a sua sede em uma das salas do “Clube Fenianos do Porto”, comecei, juntamente com meus irmãos, a ouvir falar do “SNECI“, dos seus hoquistas e, naturalmente, de Moçambique… era, então, a sua “voz” (já há 30 anos que o Snr. Armando Ribeiro falava alto!) a querer “convencer” e “influenciar” alguns que ainda não tinham tido a felicidade de “conhecer” e de conviver com tais “gentes”.

SNECI em Portugal. Visita a Santa Luzia. Da esq., Francisco Velasco, Amadeu Bouçós, Armando Ribeiro, Pedroso de Lima, ?, Fernando Adrião, Salvador Calado, Joaquim Saraiva, Alberto Moreira, Aurélio Silva e António Souto,?,?,?.
Os anos de 1962 (com a vinda do Ferroviário de Lourenço Marques ao Campeonato Nacional, de 1963 (com a participação decisiva dos Moçambicanos na conquista do Campeonato da Europa) e, sobretudo, a participação da selecção da A.P.P., em 1964, no Torneio Internacional de Lourenço Marques (de cuja embaixada fizeram parte, entre outros, o Snr. Armando Ribeiro, meu pai, Alexandre Samagaio e António Figueiredo), terão sido razões mais que suficientes para entender a saudade e, até, uma profunda “nostalgia” continuamente manifestadas por meu pai e relativas à boa amizade e convivência com os desportistas de Moçambique.
Afinal, a sua “voz” tinha encontrado “eco”: Falava ele, também, de uma terra maravilhosa e de pessoas de um Portuguesismo e amabilidades sem fim! Ouvia eu, então, falar do Eng. Sousa Dias, de Joaquim Saraiva, de Adão de Castro, do então Governador da Província, de Noronha Feio e de tantos e tantos outros. Ah! E também ouvi mencionar um tal Mirandela que, muito mais tarde, melhor o conheci… Adiante… A vinda ao Porto, no princípio dos anos 70, das equipas de basquetebol do Sporting de Lourenço Marques e de hóquei em patins da Académica de Moçambique, não mais representou que a confirmação de tudo o que atrás disse.

Abílio Moreira, de cachecol, um companheiro de Selecções e adversário em Moçambique, atleta ímpar pelo seu grande sentido de “fair-play” – “Velasco dixit” – e Fernando Barbot, no seu estilo inconfundível.
Foram os anos passando e, em Abril de 1982, tive a felicidade de me deslocar a Johannesburg na qualidade de dirigente da A.P.P.; recebeu, então, toda a embaixada do Porto atenções inesquecíveis e indescritíveis! Para além da sempre agradável companhia de Joaquim Saraiva, do Alberto Moreira e do Jorge Pauleta, tive a alegria de reencontrar o Acúrcio Carrelo, o Amilcar Passos e tantos Moçambicanos (hoquistas ou não) que, nessa também maravilhosa terra, dignamente davam continuidade às suas vidas sem, contudo, abdicarem da sua Nacionalidade… Aí conheci, também, Manuel Duarte (Presidente da Direcção do Malhanga Roller Hockey/ex-Malhangalene de Lourenço Marques) e o “nosso” já saudoso amigo Rui Dias, ex-Sporting de L. Marques.
A convite da A.P.P., deslocou-se, em Julho de 1982, o Malhanga Roller Hockey à cidade do Porto; sentiu então a “equipe” dirigente da A.P.P. uma enorme dificuldade em, condignamente, retribuir os inolvidáveis 15 dias por “nós” vividos na República da África do Sul. Mas o que parecia difícil, logo se tornou demasiado fácil: Contaram os agora ex-Moçambicanos com a companhia e a amizade de um “nosso” inesquecível (na época residente no Porto: – o “Malhanga“! Já bastante doente, nunca, durante 10 dias, abandonou ele os seus amigos de Moçambique e, a cada passo e com emoção, não deixaria de bradar o seu “grito”: MALHAAAAAAANGA!, relembrando tempos passados.
Em Lourenço Marques, no Porto, em Johannesburg ou em qualquer outro lugar, o sucesso desportivo ou social de algum evento, estaria sempre marcado por um denominador comum: A presença de Moçambicanos. Justificada está, uma vez mais, a razão porque tantos homens do “Porto” (o Snr. Armando Ribeiro. Joaquim Saraiva, meu pai, Mário de Carvalho, Samora Pinto, Adão de Castro, Joaquim Alves Teixeira, etc.) se apaixonaram tanto por Moçambique e seus naturais.
Snr. Armando Ribeiro: Recordei alguns momentos e nomes (poucos), outros esqueci e… de outros o senhor falará. Peço-lhe que transmita a todos (presentes e ausentes), um grande obrigado por tudo o que fizeram por Moçambique (Portugal) e pelo Hóquei em Patins; aproveite a oportunidade e “exija-lhes” também e a exemplo do que tem feito Francisco Velasco (para além do Moreira e do Pauleta) mais um pequeno” contributo à modalidade: uma maior participação (nem que por tal, os filhos venham a ser “vetados” das Selecções Nacionais…
Para si e para o Snr. Joaquim Saraiva, envio um abraço muito “especial”. Para todos, também, em meu nome pessoal e, recordando-o com saudade, “em nome daquele” que, se fosse vivo, “hoje” não dispensaria o vosso convívio e amizade, envio.
UM ABRAÇO
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Em tempo…
– 1968 – «Moreira, Velasco e Bouçós nomeados Sócios de Mérito da Federação Portuguesa de Patinagem, por relevantes serviços prestados à modalidade, apesar de não terem completado 100 internacionalizações. A proposta, (de acordo com o Diário Notícias de LM, de 28 de Agosto de 1968), apresentada pelos delegados Bruno Teixeira (Lisboa), Fernando Barbot (Porto), Mário Sérgio (Manica e Sofala, José Vaz Guedes (Lourenço Marques) e Nelson Soromenho (Funchal) distinguiu ainda Gaudêncio Costa e dr. Paulo Sarmento (nomeados sócios honorários) e os dirigentes e seleccionados que levaram Portugal à conquista do Campeonato do Mundo e da Europa, bem como os hoquistas que completaram mais de 100 internacionalizações, como Edgar, Correia dos Santos, Jesus Correia, Vaz Guedes, F. Perdigão, Fernando Adrião, A. Matos, Cruzeiro, Vítor Domingos e Livramento»
Tive conhecimento deste blogue através do comum amigo Fernando Barbot (com o qual estive também, como adepto amigo deles, naquele encontro reportado em fotos), sabendo ele que eu também tenho um blogue pessoal, aliás dois, embora de âmbito mais diverso. Contudo fui sempre um atento apaixonado pelo hóquei em patins e como tal num dos meus blogues, no Memória Portista, encontram-se alguns artigos sobre a modalidade, dentro do F C Porto, como poderá confirmar em
http://memoriaporto.blogspot.pt/
E, embora algo mais novo e já não tendo chegado a ser do tempo em que o senhor Velasco jogou, admirava há muito o seu talento hoquista, tal como de outros valores do passado, pelo que li e estudei, tendo, entre outro material, por exemplo um livro da história das seleções, escrito pelo sr. Amadeu José de Freitas. Assim como alguns exemplares da antiga revista Stadium, com reportagens dos tempos do Jesus Correia, Raio, etc.
Com isto quero dizer que passo a acompanhar este espaço, que, pelo que vejo, tem tanto interesse historiador do hóquei nacional. Ficando seguidor e passando a incluir este blogue na lista inserta no meu blogue.
Atenciosamente
Armando Pinto
Caro Armando Pinto
Uma resposta rápida para acusar o seu comentário, que li ontem e agradecer a sua intervenção. Tenho tido uns dias atarefados com exames à minha coluna, daí que repescarei este assunto lá para o fim de semana. Abraço
Caro Armando Pinto
Cliquei no link do seu blog que reconheço ser mais um sério contributo para o Desporto Nacional, com relevo para o futebol. como é natural. Claro que fui ao índice em busca do Hóquei (3) e dei com as famosas equipas que o FCP sempre apresentou. Foi gratificante rever nas imagens, os grandes e famosos jogadores que vi jogar e conheci pessoalmente, assinalando o Cristiano, como figura emblemática representativa dos demais e obviamente sem desprimor para estes. Somos dois aficcionados que procuram legar aos vindouros um pouco de história passada que não pode desvanecer-se com o andar dos anos, e eu bem sei o trabalho paciente… e persistente que é posto na feitura de todas estas páginas e isso sem patrocinadores que compensem o esforço efectuado. De qualquer modo, quem corre por gosto não se cansa. Desejo-lhe felicidades e daqui lhe envio um abraço. Velasco.