Além de “jacarés no mar e camarões nas montanhas”, havia também pessoas…!

Equipa de trabalho – De pé, à esq.: (?), Francisco Velasco, topógrafo, Filipe, porta mira-chefe. Agachados: João Bosco, condutor, Victor Godinho, auxiliar de topógrafo e Bernardo, marinheiro-patrão.
Foi esta foto, publicada no Facebook pelo meu ex-colega Victor Godinho, actualmente a residir em Darwin, que despertou o meu desejo, para não dizer necessidade, de escrever sobre a minha passagem por este País sofredor, que constituiu um manancial de experiências invulgares, algumas dramáticas e outras até com laivos de humor. Será, tanto quanto a minha memória permita, um retrato dos eventos desde Julho de 1961 a Novembro de 1963, cuja fidelidade os sobreviventes desse período ainda poderão testemunhar. Setembro de 2013.
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Dedicado aos amigos que lá deixei, funcionários da Brigada de Estudos, Construção e Fiscalização de Portos:
– Eng. Eduardo Dias Barbosa
– Família Machado
– Topógrafo Conceição das Obras Públicas
– Família Victor Godinho
– Desenhador Natalino
– Manuel Carvalho, escriturário
– João Bosco, condutor
– Bernardo, marinheiro-patrão
– Filipe, porta mira-chefe
e
– Família Marino Pereira, D. Olga e seus 7 filhos
– Família Conceição, topógrafo das Obras Públicas
– Família Pinto de Sousa
e
Militares com quem fiz amizade, na Messe de Oficiais de Díli
e ainda outros, destacados no Porto de Lautém
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Cheguei a Timor em 5 de Julho de 1961, na companhia de minha esposa Deanna e do meu filhote Rui Paulo que viajou com menos de 3 meses de idade. Recebeu um diploma da Quantas Air Lines como o passageiro mais novo a fazer o salto de África para a Austrália, desde o aeroporto de Joannesburg, tendo sido muito mimado pela tripulação e hospedeiras de bordo.
Foi um tanto preocupante a informação dada pelo comandante, descrevendo o voo, o qual, a partir das Mauricias, rumaria para um atol perdido no meio do Índico, a célebre Ilha dos Cocos (Coco Islands), uma base de abastecimento desde a II Guerra Mundial. Segundo ele, se metade da distância fosse ultrapassada e não estivéssemos na rota certa, aterraríamos no oceano. Mas serenou-nos com uma risada dizendo que isso nunca acontecera e não iria acontecer com o seu “Super Constelation“. E assim foi.
A viagem até ao aeroporto internacional de Baucau e daí para a capital, decorreu sem percalços. Os meus amigos da Agência de Viagens em Lourenço Marques brindaram-me com um roteiro especial que nos levou de Perth, aeroporto de entrada, às cidades de Sydney, Melbourne e Adelaide, visitando cada uma durante uns dias. Foi da última que partimos para Darwin num “Friendship”, uma aeronave espécie de Correios que foi saltitando de povoação em povoação na direcção norte, cujos nomes desapareceram dos mapas actuais, exceptuando Alice Springs, mesmo no centro deste vasto continente. Recordo-me de ter sobrevoado uma das maiores rochas existentes no mundo.
Uma vez em Darwin, aguardámos por um Cessna vindo de Timor que nos levou até à ilha. Aterrámos em Baucau numa pista de terra batida, o que me surpreendeu bastante. Quando indaguei do piloto onde estava o edifício deste esquisito aeroporto internacional, (assim era classificado nos manuais da IATA), gozou comigo dizendo que o prédio estava em Díli… Na verdade, neste pequeno planalto de Baucau, a pista era o que era e, espetados num extremo, estavam quatro barrotes que suportavam uma cobertura de folhas de palmeira e por baixo desta, um funcionário da Alfândega ou da Imigração, vestido de branco impecável, que carimbou os passaportes, entregando-me o revólver selado que declarara em Johannesburg. Curioso como até neste pormenor as coisas correram de modo oleado.
Mais tarde, dei valor a uma expressão corrente que explicava as bizarrias da terra: – Timor tinha de tudo, desde “jacarés no mar a camarões nas montanhas”!
Mas a realidade era outra, não havia uma moradia para alugar, as ruas não estavam alcatroadas com excepção de um pequeno troço da Marginal, que não apresentava sequer um cais acostável. Existia sim um pontão de madeira para pequenas embarcações e os navios ancoravam na estreita baía lançando um corda que era amarrada a uma árvore defronte do antigo Edifício da Intendência. Não havia água potável nem electricidade, recorrendo todos aos “petromaxes” da minha juventude.

Pontão de atracagem existente no local do futuro cais, comigo a observar o afundamento dos seus primeiros pilares
Foi com este cenário em mente que enfrentámos a situação, tendo eu, a mulher e o rebento, sido instalados provisoriamente em casa do chefe da secretaria da Brigada, no bairro do Farol, mesmo defronte de uma árvore frondosa que ainda lá está.

Land Rover “Station Wagon” do Eng. Chefe da Brigada de Portos, defronte da minha primeira residência, no bairro do Farol
Esta situação não durou muito e, com a ajuda da família Machado, acabámos por encontrar um local, num ponto elevado da ilha, para lá do Hospital de Lahane e de um aquartelamento militar. Esta enorme moradia, com uma vista magnífica para o mar, servira de residência ao comandante das forças japonesas, aquando da ocupação verificada durante a Guerra do Pacífico.

Minha segunda residência em Lahane, acima do Hospital e ao nível do Quartel Militar. vendo-se a minha então esposa Deanna entre duas árvores, o que dá uma ideia da dimensão da moradia
Eventualmente foi bombardeada pela aviação australiana e quando a inspeccionei, só haviam dois quartos habitáveis, nas alas do edifício, um deles mais bem tratado do que outro e que foram anteriormente ocupados pelos topógrafos Lemos e Conceição. Estes, de acordo com o que me contaram, brigavam por causa dos seus “Tokês”, uns lagartos que cresciam uns bons 30/40 centímetros e andavam lentamente pelos beirais, paredes ou pelos tetos, suspensos por poderosas ventosas. Estes bichos viraram “cãezinhos” de estimação dos moradores e não havia casa que não albergasse um.
Era de bom tom, durante os chás da tarde ou tertúlias, serem referidos orgulhosamente pelos residentes, pelas suas qualidades cantantes. “O meu canta 4 vezes tokê… tokê…, para logo ser posta em causa por outra voz que afirmava que o dele cantava 6 vezes tokê. Todavia o recorde pertencia a um que, de um só fôlego, cantava 8/9 vezes. Estes lagartos, que era disso que se tratava, totalmente inofensivos, tinham um senão, por vezes caíam do teto no braço de uma senhora que desmaiava de imediato e de nada valia dar-lhe tapas que ele não despegava. O remédio santo era acender um isqueiro ou fósforo que o bicho fugia de imediato.
Todavia, no caso particular desta nossa moradia em Lahane, que não possuía mais que o quarto habitável, sucede que eu e a esposa jantávamos na varanda à luz dum petromax, quando de uma racha do canto onde as paredes angulavam, começou a aparecer, primeiro a língua bifurcada e depois a cabeça de um destes bichos que jamais tinha visto, atraído pela luz do candeeiro e os insectos que flutuavam à sua volta. – Vai lá ver o miúdo! – disse subitamente pegando num dos barrotes caídos do corrimão. – Ele está bem! – retorquiu ela. – Vai lá dentro… ouviste! – insisti quase rangendo os dentes, a ver a cabeça do bicharoco toda de fora, a escassos centímetros dos cabelos da cara metade. Contrariada, obedeceu e eu, com uma “seticada” violenta acertei em cheio e o lagarto caiu, levando de seguida um chuto que o levou a estatelar-se lá em baixo, ao lado da escadaria. Ficamos depois a ver o animal imóvel, ela horrorizada e eu, com a adrenalina ainda a agitar o meu batimento cardíaco.
Interessante foi quando contei este incidente na Brigada. O topógrafo Lemos, muito abalado, exclamava: – Matou o meu Tokê… matou o meu Tokê…? Compreendi então que aquele era o seu “cãozinho” de estimação…
À tardinha, tinha de vedar portas e janelas com fita gomada e vaporizar intensamente o quarto com uma “bomba de fleet” para eliminar os numerosos lacraus que todos os dias invadiam aquele canto da casa. Acomodávamos-nos debaixo dum mosquiteiro que caía do teto e que também cobria o berço onde o nosso filhote dormia o sono dos justos.
Ao entardecer, a apreciar a ravina formada por este lado do monte e o oposto, onde foi erigida a casa pré-fabricada para habitação do topógrafo-chefe Lemos.
Zé Quique, com o meu filhote Rui Paulo ao colo, teria este uns 3/4 meses de idade.
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Só uns 2 meses depois é que mudamos para Díli, para uma das novas casas que foram construídas de raiz, com verbas da nossa Brigada, na vizinhança da Ribeira de Comoro, melhorando de modo considerável a nossa qualidade de vida.
Mas não foi imediatamente pois tive de encomendar de Singapura, por catálogo, várias coisas, tais como um rádio e outros artigos. Aproveitando uma visita que fiz à nossa fragata Afonso de Albuquerque, em missão de soberania, acamaradei com o pessoal da marinha, cujo sargento-mor levou-me aos porões que mais parecia uma loja franca. Havia de tudo menos mobília, daí o catálogo. Iriam para Singapura e regressariam um mês e tal depois.

O vaso de guerra, em serviço de soberania, cuja simpática tripulação adquiriu em Singapura uns artigos por mim encomendados e fez entrega tempos depois.
Vale a pena relatar o desfecho das minhas encomendas. Sempre que havia um barco no porto, o que era raro, um funcionário da Alfândega entrava de plantão e vigiava zelosamente a actividade portuária. Este problema foi resolvido pelo pessoal do vaso de guerra que planeou um exercício de desembarque às oito da noite, durante a maré cheia que cobre os corais. A essa hora fui para o bairro do Farol, acompanhado de amigos e ouvimos o ruído típico de motores fora de bordo e, às tantas, dois Zebros, praticamente a voar, aterraram na praia e em dois minutos os embrulhos foram descarregados. Foi tudo tão rápido e preciso que nem deu para acreditar que nessa noite mobilaria a minha casa de modo minimamente funcional, com a preciosa ajuda dos amigos.
O traçado do jardim foi uma preocupação minha, a fim de transformar um terreno cheio de cascalhos, numa entrada mais aprazível. Requereu trabalho árduo por parte do pessoal e transporte de areia mais adequada para as plantas.
Nesta altura já tinha engajado uma série de empregados. Uma particularidade dos serviçais era serem todos especializados, talvez devido à escassez de emprego. Assim, uma ama, a dedicada Virgínia, foi logo contratada para olhar pelo filho, auxiliada pelo jovem Zé Quique, já admitido em Lahane, cuja missão era estar sempre ao seu lado para a ajudar. Seguidamente foi o Zé Bote, o cozinheiro, que recusava servir à mesa pelo que tive de empregar mais um para esse efeito. Num anexo, outro lavava e passava a roupa, com poucos contactos com os demais. Finalmente, um jardineiro e um pescador pessoal.
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Amigos meus comentavam jocosamente que eu era um verdadeiro colonialista, mal sabendo que pagava salários sempre acima do que me pediam, até porque tinha a noção que não arranjariam emprego em parte alguma. E a questão era que todos eles recebiam em patacas, moeda sexagesimal em vigor, cujo somatório não pesava no meu vencimento.
O pescador foi um caso especial. Durante o levantamento de perfis, via com os binóculos, para lá dos corais, uma figura alta e esguia, dobrada a apanhar ameijoas, durante horas a fio. Certa tarde, (note-se que na altura o horário era único, das 7 da manhã à 1 da tarde, dado que na época das chuvas começava a chover a cântaros a partir das 2 e ficava tudo intransitável), sentado na minha varanda, vejo o apanhador de ameijoas a não aceitar que uma vizinha regateasse o preço de venda. Com um pau atravessado sobre os ombros, na extremidade do qual vinham pendurados uns sacos. caminhou com dificuldade na minha direcção, como que a pisar ovos. Não exagerei se disser que parecia uma daquelas figuras saídas de um campo de concentração: esquelético, com os joelhos e tornozelos inchados, olhos esbugalhados, sem expressão.
Pedi ao Zé Bote que o interpelasse e comprei-lhe as ameijoas todas. O apanhador, que era um jovem envelhecido, agachou-se de imediato, não contendo um ligeiro esgar-sorriso de alívio e acho que pediu água para beber. Entretanto, nesta pausa, ocorreu-me uma ideia, produto das minhas observações da costa. Para lá da Ribeira Comoro construíam-se aquelas pirogas típicas, escavando troncos onde colocavam pedras, pesadas e orientadas de modo a ficarem submersas durante as marés cheias e expostas ao sol durante as baixas. Quanto totalmente secas, colocavam uma moldura paralela de bambús para servirem de flutuadores, fazendo nascer uma embarcação artesanal que enxameavam aqueles mares, em que o proprietário se sentava numa tábua na extremidade e accionava-a com uma única pá. Eram leves e manobráveis. As maiores, por vezes, incorporavam um mastro e uma vela.
Uma vez saciada a sede, encetei uma conversa com ele, traduzida pelo cozinheiro: – Porque não pescas em vez de apanhar ameijoas?… Porque não tinha linha, não tinha anzol…! Se te arranjar tudo isso, podes ir para o mar e trazer um par de peixes cá para casa e vendes o resto por aí. Resumindo, tratei do assunto e procurei-o novamente depois de ter rebocado a canoa para o porto. Mais tarde cruzava-me com ele no mar e recebia um aceno, acompanhado de um tímido sorriso. E os peixes lá vieram com alguma regularidade.
Entretanto, logo nos primeiros dias, a família Velasco foi brindada com um passeio na Lacló, a lancha hidrográfica da nossa Brigada, com 2 motores G.M. de 200 HP cada.
Preparativos para o passeio na lancha Lacló, logo nos primeiros dias.
No deck, a família Brito, o Engenheiro Barbosa e uma das filhas do Machado.
Vista interior da lancha hidrográfica Lacló, pilotada pelo marinheiro-patrão Bernardo
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Esta lancha, meses depois da queda do nosso Estado da India, passou a ser alvo da cobiça da Administração Marítima local, cujo comandante chateava o Governador, com pretextos absurdos, o qual, por sua vez pressionava o Chefe da Brigada de Portos, Eng. Eduardo Barbosa. Este quase se comprometeu, mas deu um passo atrás quando lhe disse na altura que então seria melhor ir-me embora pois o programa de levantamentos não podiam ser realizados, como estavam programados, se não pudéssemos dispor da nossa lancha com total autonomia afim de aproveitarmos todas as situações de mar-chão e boa visibilidade.
Como tinha bastante confiança com ele, resultado das nossas relações em Moçambique, numa conversa no seu gabinete, esbocei um cenário provável e assustador. Lembrei-lhe que Goa, Damão e Diu tinham caído e que as pressões do Bloco Afro-asiático poderiam levar a Indonésia a vir correr connosco. Daí, prossegui com ar sério, a única embarcação de alto mar existente na ilha que pode levar os nossos funcionários para Darwin, é a Lacló, que veio de lá pelos seus próprios meios, comprada com as verbas da nossa Brigada e se você a ceder, na eventualidade de alguma pânico, quando olhar para a baía, já ela sumiu… Caso encerrado, pois para bom entendedor estes alertas subtis bastaram e a lancha ficou na nossa posse.
Devo esclarecer que na hierarquia das instituições locais, o Governador era a autoridade máxima e os chefes de serviço uma espécie de Secretários-Gerais que o assessoravam. Mas as pressões continuaram e, tendo ouvido um sussurro que a Administração Marítima achava que poderíamos ser assaltados, coisa corrente naqueles mares, antecipei-me e depois de dar conhecimento ao Chefe, contactei o Comandante da única Companhia Militar que vi em Timor em estado de permanente prontidão, para defesa de Díli, que me recorde, o Capitão Vicente, a quem solicitei certas armas inclusive uma caixa de granadas. Experimentei estas, atirando da lancha um par delas, sobre um cardume de atuns, que o meu “sonar” tinha detectado. Pum, pum e dúzias vieram à tona, para regalo do pessoal. Como militar na embarcação teria o Victor Godinho e todo este esquema defensivo fez gorar a concorrência pela Lacló.
– Timor tinha de tudo, desde “jacarés no mar a camarões nas montanhas”!
Além desta bizarria, uma particularidade interessante que marcava o pessoal da Brigada de Portos era que uns tantos eram “chefes” mas não tinham “índios”, para “mandar vir”, com todos a disputarem um dos dois Land Rovers existentes, um verde, de caixa fechada, tipo “Universal” que o topógrafo Chefe Lemos considerava seu apesar de pertencer à Topografia e outro, “Station-Wagon” cinzento de 9 lugares que, como é óbvio, era para usufruto do Engenheiro Chefe.
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Logo no primeiro dia, acamaradei com o desenhador Machado, uma pessoa séria e simpática, sempre debruçado no seu estirador, com a sua esposa ao lado a ajudar no que pudesse e, quando ninguém estava presente, percorri as instalações de uma ponta a outra, desde os Gabinetes do Chefe ao dos Topógrafos, a Sala de Desenho e a Secretaria, registando tudo quanto pudesse, afim de ficar ao par das realizações até àquele momento e do material de trabalho existente. Dei especial atenção à Biblioteca, cujos volumosos tratados franceses e ingleses de Geodesia, Topografia e Hidrografia, tabelas de trigonometria e de logaritmos e as de Marés do Almirantado Inglês, se tornaram auxiliares indispensáveis.
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Posto isto, decidi instalar-me na sala ampla da Cartografia onde duas janelas deixavam passar a luz tão necessária para trabalhos de desenho. Em cima, reproduzo uma planta da Brigada, instalada num armazém rectangular de pé direito alto. As paredes divisórias não chegavam ao teto, deixando um metro de altura de rede, de modo a permitir a circulação de ar e, inevitavelmente, ouviam-se conversas ou discussões que por vezes eram travadas.
Meu posto de trabalho, sempre às voltas com cálculos…
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O incidente mais interessante foi a chegada do Eng. Adjunto, Luis Manuel Rodrigues Lobo de seu nome. Normalmente, eu ia cedo para os escritórios, pelas 5/6h00 da manhã e uma hora depois apareciam os outros funcionários. Estávamos alguns na secretaria, incluindo o Eng. Chefe da Brigada, que de calções e camisa desabotoada, foi confrontado com a súbita aparição do seu Adjunto, recém-chegado da Metrópole, o qual, sem dizer bom-dia, perguntou onde estava a viatura dele. Ainda me lembro como o monóculo do Eng. Barbosa quase se soltava e a expressão que fez quando indagou: – Quem é o senhor? Aí, a aparição apresentou-se e ouviu o que não gostou: – Aqui só existem duas viaturas, a minha que não dispenso e a outra que está adstrita à Topo-Hidrografia. Acho que este desapontamento marcou a estadia do Eng. Lobo, dado o posterior desfecho.
– Segue-se parte 2
Espectacular! Gostei de ler. Transportou me para esses tipos e locais diferentes. Por curiosidade (fui atleta federado de hoquei em patins durante 27 anos). Existe ou existiu algum polo de hoquei em timor? Algum clube? Patinagem? Dili? Baixa? Parabéns
Caro Ascânio
Em Dili, no meu tempo, existia um recinto cimentado onde se jogava basquetebol. Seguramente que poderia ser preparado para a patinagem. A propósito disso, numa esplanada que existia na marginal, penso que pertença da família Carrascalão, à noite reunia-se a fina flor da cidade. Estava de visita a Timor um alto funcionário administrativo, Dr. Juvenal de Carvalho que me conhecia de Lourenço Marques pois marquei o golo que deu a vitória ao SNECI que arrecadou a taça com o nome dele. Ora, calhou trocar umas palavras com esse alto dignatário que me perguntou quando teríamos hóquei na terra. Dei-lhe uma resposta menos polida, produto talvez da miséria que vira naquele território, que silenciou os presentes mas que eventualmente acabaram por soltar umas gargalhadas, compondo a minha falta de tacto. “ Sr. Dr… se ponho a miudagem a patinar eles caem mortos porque estão cheios de fome…!“
Acho que isto responde às suas questões e não creio que Timor no meio de tantas prioridades vitais pudesse criar uma organização competitiva sustentada.