Véspera do dia D.
Os dias voaram e a “hora da verdade” chegou. Durante as nossas idas através do campo de golfe, tínhamos procurado e encontrado um local para o ponto de partida. Eram um enorme emaranhado de arbustos cerrados que se dobravam sobre si, formando uma cúpula natural, tal como um “igloo”, que proporcionava uma área razoável para podermos sentar e armazenar o nosso equipamento. De fora não se via nada e, o que era vantajoso, encontrava-se situado junto da cerca de arames que delimitava a Escola de Equitação.
Ora, dando seguimento ao plano, reunimo-nos na esplanada do SNECI onde o Teddy e o Moreira conversavam discretamente defronte do bar. Assim que anoiteceu, eu, o Assunção e o Edmundo, vestidos com calças compridas, sabendo que àquela hora, todos os apanha-bolas do ténis, se encontravam nos seus dormitórios, por baixo do edifício-Sede, fomos directos à arrecadação onde se encontrava o armeiro. Forçámos a porta e depois de termos entrado, escolhemos 2 armas das mais simples, de alça e mira, sem aqueles dioptros de pontaria modernos e arrecadámos também um número elevado de caixas repletas de munições “.22”.
Na altura, não nos ocorreu que este acto constituía uma infracção criminal. Era como se estivéssemos a levar algo que era nosso, tão habituados estávamos, desde crianças, a considerar que tudo quanto existia nas instalações do Sindicato, estava lá para nosso usufruto.
– Se quiséssemos patinar, entrávamos na arrecadação e levámos os patins;
– Se decidíssemos jogar voleibol, montávamos a rede e encontrávamos uma bola;
– Se porventura nos desse para fazer ginástica, abríamos a arrecadação e arrastávamos as caixas dos plintos e trampolins para fora, entretendo-nos depois durante horas, a variar das piruetas sobre caixas para acrobacias nos trapézios do ginásio ao ar livre.
Isso aplicava-se também ao basquetebol, pois bastava pegar uma ou duas bolas apropriadas e lá caminhávamos para o campo, onde disputávamos uma partida ou fazíamos apostas em concursos de encestamentos. Ninguém fiscalizava nada, daí aquele sentido de propriedade que nos impediu, neste caso, de pensar sequer que estávamos a cometer uma transgressão séria. Mas foi assim… e nada a fazer!
…
À última da hora, apareceu outro nosso companheiro, o Bonifácio João Luís Fernandes, um grande pianista e bom amigo, que, num órgão de pedais, liderava o nosso pequeno grupo musical composto pelo Arlindo Vicente nos tambores de percussão, eu na viola, o Tomás da Rocha Silva Santos com uma gaita de beiços e outros com matracas e ferrinhos. Era um grupo que se encafuava na cabine de som, ligava os auto-falantes exteriores e fazia soar o seu reportório para umas bancadas completamente desertas, mas que tínhamos a certeza era ouvido pelas freiras e meninas do Colégio D. António Barroso.
O Boni só empatou, desconhecendo em absoluto as nossas intenções, encavalitou-se na motorizada do Teddy Warne, uma daquelas em que o motor cai sobre a roda dianteira e não parava de dar voltas entre o edifício e os courts de ténis. Eventualmente estacou, alertado pelo Teddy que o depósito de gasolina era pequeno. Suspirámos de alívio quando se foi embora pois precisávamos da motorizada para carregar as coisas para o ponto de partida.
Saímos pela porta da frente, com as espingardas metidas nas calças, ao longo da coxa, a coronha meio encoberta pelos nossos blusões. Ainda conseguimos rir, porque ao caminharmos com uma perna esticada, parecíamos um par de aleijados… Mas chegámos ao nosso destino onde nos atarefámos a arrumar tudo que o Teddy Warne transportara na sua motorizada com as frequentes idas e vindas à cidade. Mas quando terminou, abordou-nos com um ar acabrunhado que cheirava a desistência. Explicou-nos que não nos acompanhava, pois se fizesse isso a mãe dele morria.
Ninguém comentou, aceitámos a razão exposta com toda a naturalidade. Não sei o que os outros pensavam, mas no meu íntimo e com alguns remorsos, lembrava-me da minha Lisocas, que tinha preparado uma lancheira, cheia de mimos, para eu levar para um acampamento de férias na Xefina. Esta fora uma invenção para justificar a minha provável ausência prolongada. Pus essa imagem para o lado e concentrei-me nos preparativos. Recusei o colt.45 que o Teddy queria deixar comigo, bem como o chapéu bóer e a jaqueta em pele de cabrito que lhe dera tanto trabalho a confeccionar. Animei-o e quando finalmente se despediu de nós, recebeu abraços amistosos de todos. Minutos depois de ter desaparecido na sua motorizada, iniciámos a nossa jornada em direcção aos estábulos onde se encontravam os cavalos.
Primeiro milagre…
Pé ante pé, aproximámos-nos das cavalariças e aí os deuses actuaram! Meia dúzia de cães desataram a ladrar, animais esses que nunca tínhamos detectado quando visitávamos a Escola pois acomodavam-se sob qualquer sombra para se protegerem do calor. Pânico nas hostes quando as luzes da residência começaram a acender-se e nos lembrámos logo que o Frank poderia sair com a tal espingarda que usava para tentar abater corvos. Fizemos uma retirada táctica e silenciosa para o nosso “igloo” onde nos interrogámos:
– E agora…? – Vamos a pé…? – Vamos…! Bora a isso..!
E esquecemos de imediato os cavalos…
Depois do Teddy, qualquer desistência era inaceitável. Até parecia que um “braço de ferro” estava em vigor, e nas nossas mentes… um antes quebrar do que torcer. Sem hesitações, de mochilas às costas e armas no ombro, iniciámos a caminhada para norte, em direcção ao aeroporto. Passadas umas largas horas a andar, pernoitámos debaixo dum cajueiro, onde os mimos da minha saudosa Mãe acabaram por fazer bastante jeito. Adormecemos rapidamente, cansados pelo peso que levámos, bastante agravado pela excitação e nervos causados pela actividade anterior.
Assim que o sol nasceu e depois de “matabicharmos” umas sandes acompanhadas de Nescafé bem quentinho, prosseguimos a caminhada pela mata, deparando com palhotas dispersas que evitávamos para não chamar a atenção. Ao meio dia, fizemos nova paragem para manjarmos o que fora pré-preparado para os primeiros dias, i.e., sandes, ovos cozidos, bananas e outras frutas. Depois de um curto descanso, reiniciámos a caminhada.
Por volta das 4 horas da tarde, já para lá do aeroporto, demos conta que o extractor da calibre 12 se desengatara e tinha caído, o que criava um grave problema. Escolhemos uma árvore frondosa à volta da qual colocámos as mochilas. O Moreira e o Edmundo ficaram de guarda a esses haveres enquanto eu e o Assunção recuámos um par de kms a ver se encontrávamos a peça, vasculhando bem o percurso que tínhamos feito, mas nada. Acabámos por regressar desapontados e aí o Assunção pega na arma, mete-lhe dois cartuchos e afasta-se, decidido.
– Vamos ver o que isto dá…!
– PUM…! PUM…! – Ecoou pela área.
– Funciona! – Exclamou excitado – Só que os cartuchos têm de arrefecer para retirá-los com as unhas…
Três horas depois, já noite caída, jantávamos quando ouvimos o motor de uma carrinha parar à distância e um par de vultos com lanternas a caminharem ao nosso encontro. Enrolámos as armas nos sacos cama e, numa decisão meramente instintiva, deixei a “espingarda.22” ficar encostada à árvore, bem à vista, ao mesmo tempo que retirava meia dúzia de balas que meti num dos bolsos da minha camisa de ganga.
Era a polícia que, alertada por qualquer residente das palhotas, tinha vindo investigar os tiros dados na zona. Foram simpáticos, conversaram connosco, a ver as únicas identificações que possuíamos que não eram mais que os nossos cartões de jogadores de hóquei.
– Fizeram disparos? – Inquiriu um.
– Sim… dois tiros com a arma que está aí – respondi eu que tivera o pressentimento que estes agentes teriam vindo por causa os disparos do Assunção, mas sabendo também que as ponto.22, na altura, não requeriam licença.
O homem pegou na arma, mirou-a bem e voltou a encostá-la contra a árvore.
– E o que fazem por aqui?
– Estávamos fartos de férias na praia e resolvemos variar… e ir até Marraquene!
Os agentes pareciam definitivamente convencidos, mas um deles pediu-me para acompanhá-lo na carrinha porque teria de fazer um relatório ao chefe que os tinha enviado para investigar a ocorrência. Vinte minutos depois chegávamos a uma cantina, onde após a ligação telefónica, ouvi o agente a repetir a história das férias em Vila Luísa e que éramos um grupo de jovens, aparentemente jogadores de hóquei, que estavam cansados das praias da Polana. A seguir fez-se um silêncio durante uns poucos de segundos.
– Sim, sr. Comandante! É para já! – Disse o polícia, pousando o telefone e virando-se para mim – Nada feito, o Chefe mandou transportá-los para Lourenço Marques…
Retornámos para junto dos outros, onde informei os companheiros que teríamos de regressar. Enquanto isso os polícias entraram na carrinha e em marcha atrás, recuaram até perto de nós, dizendo-nos que colocássemos os nossos haveres na caixa da viatura que não era fechada mas possuía um toldo. Com cuidado, embrulhei a ponto .22 e arrumámos tudo como devia ser, sentando-nos no seu interior, após o que partimos para Rua Andrade Corvo. A viagem foi longa e acabámos estacionados no pátio interior da 1ª Esquadra. Pelo caminho, lembrando-me do convencimento visível dos dois polícias de que não passávamos de uns jovens a fazer um turismo diferente do usual, resmunguei alto para os meus companheiros, que o Chefe deles não teria mais nada que fazer na instituição.
Hoje, em retrospectiva, acho que fui injusto nessa apreciação. Nós nem pensámos que o SNECI teria de participar o desaparecimento das armas. Diga-se em abono da verdade que retiraram logo a queixa, quando não aparecemos para o jogo das Segundas Categorias, marcado para o nosso dia D, mas o assunto ficara registado e o chefe não precisava de ser o detective Colombo para relacionar um facto com o outro.
Mandaram-nos subir para uma sala enorme onde havia uma secretária imperial, ladeada de arquivos e um par de cadeiras. Era o gabinete do Comandante da Esquadra que entrou ruidosamente pouco tempo depois, sentando-se e olhando para nós, com um ar nada amigável. Não sei por que carga de águas se dirigiu a mim, talvez por ser o mais alto de todos…
– Então… andaste aos tiros? – Perguntou-me secamente.
– Foi… – respondi de mansinho.
– Com que arma?
– Uma ponto .22… – Avancei rapidamente, retirando uma bala do bolso e colocando-a no topo da secretária.
Pegando no projéctil e mirando-o pensativo, virou-se para o Assunção que estava mais a jeito e ordenou-lhe que fosse buscar a arma. Aqui sucedeu um imprevisto, um dos polícias que nos trouxera e que se encontrava junto da porta, travou o Chambeta, dizendo que iria ele à carrinha. Acho que apalpou um dos sacos-cama mais à mão e retirou a espingarda que minutos depois colocava em cima da secretária, a olhar para nós, surpreendido.
Segundo milagre…
Fez-se um silêncio confrangedor na sala. O Comandante pegou na arma, destravou-a de modo a que ficasse dobrada, verificou que estava descarregada e virou-a ao contrário, espreitando pelos canos. Seguidamente, pegou na bala que eu depositara na mesa e, com uma expressão irónica, meteu-a no buraco, e ela foi escorregando por ali abaixo até se ouvir um distinto Pling…!
– Com que então… – prosseguiu o Comandante, levantando-se e fazendo escorrer a bala para cima da mesa – disparaste essa coisa com esta espingarda?
Emudeci, não tinha resposta nem vontade de abrir mais a boca, até porque o chefe se aproximou de nós, furibundo, obrigando-nos a encostar à parede, ao mesmo tempo que se fazia ouvir:
– Esvaziem a viatura e tragam tudo cá para cima! – Ordenou, aproximando-se do Moreira que estava com um sorriso nervoso, um tique que lhe era habitual e tocando-lhe com o dedo no peito – Estás a rir-te?
O Moreira não conseguia controlar-se e o homem deve ter-se apercebido que eram nervos até porque o Edmundo, a seu lado, não podendo circular, girava sobre si próprio como um pião. Os únicos que permaneciam impávidos e serenos, era eu e o Assunção.
Meia hora depois, a sala parecia um armazém. Tinham escalado uma dúzia de polícias para o transporte da nossa bagagem e era vê-los a dispor as coisas no chão, de modo organizado, excitando-se com o que iam descobrindo: – Olhem para isto!… – olha aquilo…!
O Comandante, também surpreendido pelo que ouvia e via, estava agora mais calmo e, de vez em quando, lançava-nos um olhar inquisitivo. Depois de desdobrar na secretária o que me pareceu ser o mapa do percurso do safari, sussurrou algo a um graduado que de imediato nos conduziu aos calabouços, com direito a pernoitar numas celas individuais nojentas, a ouvir cantar os africanos, detidos a monte, por baixo de nós, com aquela harmonia nata que a torna inimitável.
Foi uma experiência horrível, a olhar para as paredes sujas, cheias de graffiti e lamentos dos que por lá tinham passado, riscados nas paredes, insultos aos “chuis” e, inclusivamente, o célebre slogan: “Killroy was here!”
Pela manhã, vieram os nossos pais. O meu velhote pouco comentou, acho que os nossos familiares ficaram aliviados, mas foi-me penoso ter de enfrentar o amuo de minha Mãe, que como sempre não durou muito tempo.
A parte pior veio depois. Instruíram-nos para estarmos presentes na Esquadra no dia seguinte pelas 8.00 horas da manhã, para prestar declarações e que não faltássemos. Iniciou-se então um calvário que durou os três meses de férias. Comparecíamos todos os dias e aguardámos sentados nos bancos da entrada. Pelas 11.30 horas passava um polícia que nos mandava embora avisando para estarmos de volta às 14.00 horas. A desculpa era que estavam ocupados e que tínhamos de esperar pela nossa vez e só nos mandavam embora pelas 17.00 horas. Este cenário repetiu-se diariamente e nem queiram saber a seca que não foi estar ali, sem nada que fazer, senão aguardar nos bancos de madeira dura, que nos chamassem.
O que nos valeu foram os inúmeros casos que testemunhámos, tão típicos das ocorrências nas esquadras de polícia, alguns sérios e dramáticos, outros hilariantes. Ainda vimos alguns marinheiros embriagados ou pretos renitentes a levarem uns caldos pelos degraus acima, o que contribuía para que o tempo voasse. Além disso, a certa altura, passaram a usar-nos como paquetes, para transportar pastas e ofícios de um gabinete para outro. A atmosfera tinha-se amenizado com o tempo, os agentes sorriam para nós e soltavam piadas ao cruzarem-se connosco. A história dos exploradores espalhara-se por toda a Esquadra.
Os três meses deste martírio terminaram quando o novo ano lectivo teve início e nem sequer tomáramos um banho de sol nas praias da Polana. Voltámos às aulas e aos treinos e jogos de hóquei e, estranhamente, ninguém tocava no assunto da nossa aventura. Mas os procedimentos não terminaram, porque um mês depois, um oficial de diligências apareceu no Liceu e tentava entregar-me uma intimação, citando o meu nome. Mas eu esquivava-me, no primeiro andar, por detrás dos meus colegas. No dia seguinte, teve lugar uma cena invulgar. O homem não esteve para meias medidas, colocou um papel na base da estátua do Salazar, com uma pedra por cima e berrou pausadamente o meu nome inteiro, para uma plateia que se debruçara nas varandas, a gozar com este espectáculo: – Está intimado…!
Foi assaz embaraçoso e quando o astuto do oficial de diligências desandou, lá fui pegar o papel e fiquei ciente que teria de comparecer para julgamento no Tribunal situado em frente do Grupo Desportivo de Lourenço Marques. No dia marcado, apresentei-me, juntando-me aos outros três companheiros, sem fazermos a mínima ideia do que o destino nos reservava. Foi uma tarde monótona, a ouvir os depoimentos das partes envolvidas, tanto do pessoal das palhotas como dos polícias que nos abordaram, bem como o extenso inventário dos nossos apetrechos e armas. Chegámos finalmente ao momento crucial:
– Levantem-se os réus!
Apanhámos todos, uma dúzia de meses de cadeia. Nem queria acreditar no que ouvia da boca do douto Juiz que especificava, com ar solene, as penas de cada um. A pausa deliberada que se seguiu, bastante longa, fez com que as minhas pernas quase cedessem, não sei o que se passou com os outros.
Milagre 3
– As penas ficam suspensas!

O Chambeta, o Moribundo, Mim e o Moreirita. A nossa sorte foi não termos ido parar por detrás das grades.
– Notas finais:
O Milagre 1 refere-se aos cães terem ladrado, impedindo que saíssemos a cavalo e evitando consequências desastrosas para os animais, até porque partíramos do princípio que se alimentariam pelo caminho, o que não é bem assim, dada a suas natureza bastante delicada e sensível. À parte quaisquer doenças que pudessem contrair, vistas as coisas em retrospectiva, sobressaía o facto de se tornarem presas apetecíveis para os vários predadores que nos espreitariam. Não creio que o Frank alguma vez teve conhecimento deste plano felizmente gorado…
O Milagre 2 tem a ver com o engano do polícia que trouxe a calibre 12. Tudo terminou com essa troca, pondo fim a uma iniciativa que estava condenada a um falhanço estrondoso.
O Milagre 3 representa o alívio final que se apossou de nós pela suspensão das penas, facto que, diga-se de passagem, evitou a destruição da carreira de dois futuros campeões do mundo de hóquei em patins que, 2 anos mais tarde, faziam pelo SNECI, a sua primeira digressão à Metrópole.
O pesadelo, na parte 1 desta história, tem a ver com estes factos verídicos. A maior parte dos seus protagonistas andam por aí e por vezes encontramos-nos para um almoço, onde todos estes episódios são relembrados.
Uma consequência das cenas da intimação tentadas publicamente pelo oficial de diligências, foi que causou-me um embaraço permanente a pontos de ter decidido acabar com os estudos. Aliás, o novo Liceu Salazar parecia uma penitenciária, não se podia deslocar de um andar para outro, as janelas das salas eram altas, diferentes do velho liceu em que podíamos respirar e ver o que se passava lá fora. Os professores, bem, alguns deles estavam ultrapassados, em idade de reforma e anímicamente gastos.

O novo Liceu Salazar, hoje com outro nome, onde as garotas ficavam na ala esquerda e os “garotos” na direita. Descriminação estúpida pois juntávamos-nos à saída…
Finalmente, para que não se fique com a ideia que era um moleque da rua que não estudava, quero acrescentar que nos exames de admissão ao Liceu, obtive a nota mais elevada da pauta, 18 valores e igualmente o 1º lugar nas provas realizadas na Escola Técnica e Comercial. Isso, apesar de ter ficado 2 anos à espera de atingir a idade decretada para prosseguir os estudos, uma vez concluída a Escola Primária. O último desses anos e em boa hora, fui inscrito no Colégio Pedro Nunes, onde a alta qualidade do professor que nos leccionou e cujo nome tenho pena de não me recordar, levou toda a sua turma ao sucesso nos exames.
Escolhi o Liceu onde, durante vários anos, aparecia listado no Quadro de Honra e saí com notas razoáveis. Ainda hoje não entendendo como consegui tudo isto, a vadiar como vadiei! Talvez porque não era meu jeito brincar ou distrair-me nas aulas, por respeito pelos professores, sempre atento a ouvir o que diziam. Nos testes, exames e chamadas ao quadro, funcionava a memória, ao contrário de muitos que marravam até ao último momento. Respondia com as próprias palavras dos professores e acho que isso não lhes passava despercebido.
Ahhh…afinal isto não acabou em correntes e “sol aos quadradinhos”…
Espero que o Alberto Moreira (que nunca tive o prazer de conhecer pessoalmente) eu que era “fã” indiscutivel do Moreira, como “aprendiz-de-guarda-redes” que sempre fui (para mim o Moreira era equivalente a uma formula matematica do genero: MOREIRA=[LARGO+ZABALIA+MATOS] ELEVADOS AO QUADRADO!)… espero, dizia, que o Alberto Moreira venha a ler esta fantasmagorica aventura aqui tao pormenorizadamente lavrada (e ilustrada!) por forma a que FINALMNENTE apareca nos vossos almocos! (Mais uma vez a acentuacão disto fica aquem do desejado…tal como gorada ficou a vossa aventura). Va”la’… passaram do aeroporto!
A esse ritmo teriam chegado a QUE QUE… por esta altura?
E… parabens pela historia… pelas recordacões…que calarão fundo em quem conheceu o LM do teu tempo!
Daniel amigo
Felizmente não acabou com o “sol aos quadradinhos” mas mais trágico seria se fôssemos presa de um grupo de felinos esfaimados. Seria um banquete e pêras, coxas de ma’Bandidos como aperitivo e cavalos como prato principal. Tudo sem sal e piri-piri. Sinto um arrepio ao imaginar a tentativa desesperada de fuga e o desfecho inglório que se seguiria com toda a usual bicheza, hienas às gargalhadas e uma plateia de vorazes abutres a aguardar a vez de molharem o bico. Imagina só…!
Caro Francisco Velasco,
Foi uma boa aventura que aqui relataste e cuja’a qual me regalaste. Kanimambo. Pacientemente esperei p’lo ultimo episodio antes de comecar a leitura, para evitar ficar num estado de ansiosidade se o fim da estoria viesse tardiamente e ainda bem. As peripecias que contas, eram tipicas numa subcultura nums tempos em que na nossa visao nada parecia impossivel. Apesar de pertencermos a duas geracoes diferentes a tua a frente da minha, vivemos e desfrutamos de uma vivencia num lugar que hoje em dia parece ter sido num mundo ou galaxia ‘light years away’. Por isso sei que a estoria foi conforme contas. Na seguinte geracao, a qual eu pertenco, vivi semehantes situacoes dentro desses contextos e locais geograficos (LOL)
Mais uma vez obrigado e um abraco.
Ze Carlos (Jhb)
Caro José Carlos
Obrigado pelo comentário. Podes crer que esta aventura passou-se conforme foi relatada, rebuscando a minha memória. Alguns dos protagonistas ainda estão vivos e seria um grande embaraço contar algo que não tivesse ocorrido. Hoje, até eu me surpreendo como nos metemos numa “cowboy-ada” daquelas. É natural que hajam outras gerações com histórias deste tipo e bom seria que as descrevessem pois contribuiriam para caracterizar a época, o local e o espírito que reinava naquela capital à beira do Índico. Dizes bem, era uma “galáxia” aparte.
Abraço
Amazing story ,but what were they going to do?
Iam a friend and related to the Velasco family through Lobato Faria who married my fathers sister,my aunt Raquel!I was very friendly with Chico ,Mario´s son and Tony Roberts Lourdes and Mr Robie´s son who was at school with me in Johannesburg.Very gifted family whom i have great respect and admiration