— Submetido por ANÓNIMO, em 2012/02/16, às 18:27, no local dos Comentários da página 1960 Campeonato do Mundo – Madrid
«Panagini foi em Portugal e Espanha um caso sério de popularidade? Mais do que na sua terra!
Raparigas de algumas aldeias portuguesas que nunca o viram jogar, citavam-no como o jogador que mais gostavam… Protagonismo este que nem sequer o Adrião conseguia fazer sombra… Excluindo a emotividade, sabe se haveria reais motivos técnicos e profissionais que justificassem o fenómeno?
Caso a resposta seja positiva, quererá exemplificar? Ele era esquerdino, suponho eu, ou seria que manobrava o stick com ambas as mãos, com igual facilidade?
Antecipadamente reconhecido pela sua resposta. Cps.»
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— Submetido por Velasco, em 2012/02/16, às 20:09, em resposta a Anónimo.
«Caro Anónimo
Não tenha dúvidas que foi um caso sério de popularidade. Se as moçoilas de algumas aldeias portuguesas não o viram jogar, de certeza que ouviam o seu nome pela rádio, pois marcava bastantes golos. A única explicação para este fenómeno é simples. Era na altura um fora de série, um pujante “dobberman”, sem ser grande malabarista mas muito prático e eficaz, senhor de uma poderosa e certeira seticada. Era essencialmente esquerdino.
Seu curriculum: – Participou nos Mundiais de 1948, 1949, 1950, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955 (quando o vi jogar em Milão), e 1956. Joguei contra ele em 1957, II Taça Latina, em 1958 no Mundial do Porto e em 1960 no Mundial de Madrid. A única prova importante em que o Panagini não participou, foi a do Europeu de 1959, em Généve.
Com um historial destes, não admira que ficasse a fazer parte do folclore do povo.»
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Sobre esta minha resposta devo acrescentar mais abaixo o quadro de classificações dos Mundiais que mostra claramente que a Itália, ao tempo, não era um “pêra doce”, movimentando-se durante 10 anos, 1948 a 1958, entre o 3º e o 1º lugar, tendo conseguido a 2ª posição 3 vezes, tantas como Portugal e Espanha e inclusivamente vencido um Mundial.
Temos de ter em linha de conta que até 1953, ano em a Itália se sagrou campeã do Mundo, a nossa Selecção Nacional era composta pelos inesquecíveis Emídio Pinto, Raio, Edgar, Jesus Correia e Correia dos Santos e que em 1955, quando ficámos em 3º, se juntaram a estes o Matos, António Figueiredo, Fernando Cruzeiro, José Lisboa e Domingos Perdigão.
A Itália não era só Panagini, este estava rodeado por jogadores de muita valia, Marchetto, Dagnino, Villa, Aldo, Gelmini e outros.
Não admira que «as raparigas de algumas aldeias portuguesas que nunca o viram jogar, citavam-no como o jogador que mais gostavam…», pois o nome é deveras sonante e fácil de memorizar, com tantos GOLO!!! … GOOOOOOLO DE PANAGINI!!!
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1º 2º 3º 4º
1947 Lisboa Por Bél Esp Itá
1948 Montreux Por Ing Itá Esp
1949 Lisboa Por Esp Itá Bél
1950 Milão Por Itá Sui Bél
1951 Barcelona Esp Por Itá Bél
1952 Porto Por Itá Esp Bél
1953 Genebra Itá Por Esp Sui
1954 Barcelona Esp Por Itá Bél
1955 Milão Esp Itá Por Sui
1956 Porto Por Esp Itá Ale
1958 Porto Por Esp Itá Hol
1960 Madrid Por Esp Arg Itá
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— Submetido por OUTRO ANÓNIMO, em 2012/02/18, às 21:21, no local dos Comentários da página 1960 Campeonato do Mundo – Madrid, numa achega ao primeiro Anónimo.
Responderei a este segundo anónimo, intercalando as minhas observações, a itálico negrito, na prosa abaixo.
«Sem o intuito de por em causa ou, sequer beliscar, as qualidades e o valor de Panagini, nem tão pouco subestimar a resposta do Velasco, penso que a minha interpretação também tem cabidela. – Todas as interpretações merecem ter cabidela mesmo que comportem umas contradições. Ninguém do povo sabia ou estava minimamente interessado quantas vezes o “Gin” tinha actuado internacionalmente ou se marcava muitos ou pouco golos. Muito menos o sexo feminino! «Se ninguém do povo sabia, etc… Muito menos o sexo feminino!» contradiz o primeiro ANÓNIMO que afirmou que as moças da terra citavam o Panagini como o jogador de quem mais gostavam, para desespero do Adrião.
Então, qual o motivo de tanta afeição?
– Não direi amor cego… as moças, de acordo consigo, «ninguém do povo (muito menos o sexo feminino?) sabia ou se interessava pelas internacionalizações ou golos do “Gin”». Nunca o viram porque não havia TV… ouviam seguramente o nome pela rádio e pimba, acabavam enamoradas! Não, amor cego não é… Só pode ser “amor de ouvido”!
Exactamente pelos mesmos motivos que preferiam o Paul McCarteney aos seus companheiros dos Beatles; por ser o único bonito para as jovens.
Razão esta extensível ao actor actor Tony Curtis que atraía uma larga afluência do sexo feminino, que se lhe mantinha sempre fiel, independentemente do nível das suas actuações.
E, por esta mesma razão, “idolatravam” o Panagini, que era o jogador mais bonito de todos, afirmavam elas. – Justificar a idolatria por Panagini com estes argumentos parece-me um tanto contraditório com a sua afirmação anterior de «muito menos o sexo feminino!»
É caso para relembrar que o coração tem razões que a razão desconhece. – Isso é verdade, para cada mulher bonita há um homem bonito, para uma mulher feia haverá um homem bonito, para uma mulher bonita há um homem feio, para uma mulher feia haverá um homem feio, para um homem feio há um homem bonito… etc., poderíamos desmultiplicar todas as combinações, introduzindo a mulher de bigodes, os obesos e o marreco que acabaríamos forçosamente por concordar que “o coração tem razões que a razão desconhece”.
Isto era o que se passava neste outrora jardim à beira mar plantado.
No que toca a Espanha desconheço. – É o mesmo POR TODO O MUNDO!
O valor profissional e as provas dadas nem sempre tornam um atleta o mais popular! – Homessa! Que tornará um atleta popular senão o seu valor e as provas dadas? Será que tem de tocar guitarra, cantar ou dançar o rock’n roll???
Atente-se no exemplo de um dos maiores ciclistas de todos tempos, o grande campeão Jacques Anquetil, que não era o mais popular na sua época em França; mas sim o Poulidor, carinhosamente apelidado de “Poupou”. – Não contesto, apesar de ter feito uma busca e ficado ao par da história destes senhores, até porque gostos não se discutem.
Correia dos Santos foi maior goleador e talvez mais mexido do que o Jesus Correia. Contudo, o célebre “monsieur je” era mais popular, tanto cá como no estrangeiro do hóquei em patins. – Aí está… um era franzino e malabarista e o outro muito mais atlético e perigoso. Podemos ver as estátuas dos mesmos numa praceta de Paço de Arcos, juntamente com o Emídio Pinto.
Enfim, fico-me por aqui.
Viva o Velasco!»
VIVA O PANAGINI!… VIVA O HUMOR!
4 Responses to Panagini… um mito?