Época 1983/84 – Sporting Clube de Tomar – parte 1

De pé, da esq.: João Filipe Perfeito, António Manuel de Freitas Bastos, (?), Francisco Velasco, Vasco Parreiral Simões Vaz, João Manuel Silva Batista, António Alberto da Silva Vicente, Mário José Lages Araújo, José Alberto Duarte Caetano, Daniel Silva Vieira, Sérgio Dantas – Agachados: da esq.: Prof. Costa Marques, Vítor Capitolino, Manuel Luís de Oliveira Bravo (gr), Araújo (gr), Carlos Alberto H. Pereira da Silva, Horácio Manuel Ferreira Honório.

Enquanto aguardava pela concretização da proposta acordada em princípio, pelo Hockey Club Monza, para regressar a Itália, como ela tardava, acabei por aceitar o convite do Sporting Clube de Tomar que terminara a 1ª volta do Campeonato Nacional numa posição que preocupava os seus dirigentes.

Vivia em Cascais e o acesso a Tomar era atribulado pois teria de apanhar o comboio para o Cais de Sodré, um autocarro para a estação de Santa Apolónia, seguir noutro comboio para o Entroncamento, onde uma viatura particular me conduziria ao pavilhão desportivo. Tinha exactamente entre 1 hora e meia a 1 hora e 45 minutos, no máximo, para realizar o treino, uma vez que o procedimento para o regresso era o oposto, e os horários dos comboios tabelados.

Considerando esse aspecto e o facto de a época estar a meio, quando as oportunidades de poder entrar no activo, eram escassas, visitei Tomar para conhecer o ambiente e as pessoas e ser apresentado aos atletas. Gostei e resolvi tentar, aguardando por uma confirmação escrita por parte da Direcção do Clube que recebi em 3 de Fevereiro de 1984. Para minha surpresa, em dias subsequentes, viajaram comigo no mesmo comboio, os guarda-redes Bravo e o Araújo, com este o último a entrar a meio caminho, o que contribuiu bastante para suavizar a viagem.

Pegar uma equipa nestas circunstâncias requer medidas de emergência e grande imaginação, se desejarmos dar rapidamente a volta por cima. Felizmente, sempre tive um Grupo Técnico à altura, em todos os aspectos das suas funções que, neste caso do Tomar, muito ajudou a recuperar um plantel de jogadores bastante razoável.

O organigrama do Sporting Clube de Tomar, extracto de timbrado, era o seguinte;

Corpos Gerentes:

Assembleia Geral:Presidente: “Major” José Rocha Goulart; – Vice-Presidente: José Júlio Alves Cordeiro; – 1º Secretário: Abílio Lopes Nunes; – 2º Secretário: Rui Lopes Nunes.

Direcção:Presidente: Dr. Alberto C. Sá Correia; – Vice-Presidente: Manuel Victor Gonçalves Leal; – 1º Secretário:2º Secretário: Rui de Castro Granja; – 3º Secretário: José de Castro; – 1º Tesoureiro: Fernando Américo Rodrigues de Oliveira; – 2º Tesoureiro: Manuel da Costa; – 1º Vogal: José Manuel Farinha Perfeito; — 2º Vogal: António Sérgio Gouveia Campelo; – 3º Vogal: Fernando Gonçalves Coutinho; – 4º Vogal: “Cap.” Herman Mendes Schulz Guimarães; – 6º Vogal: Augusto Rodrigues; – Vogal: Zeferino Seabra Pereira; – 8º Vogal: António Monteiro

– Conselho Fiscal:Presidente: José Torres Pereira Redol; – Relator: Arménio Seco Breia.

– Secção: (manuscrito no verso do timbrado) – Emílio ?; – João Perfeito; – Daniel Vieira; – Zé Alberto; – Sérgio Dantas; – Zé Maria (Fiat); – Costa Marques (preparador físico); -Dr. Bastos (médico); – Dr. Feliciano (médico); – Ventura (Massagista); – Fernando Silva (mecânico/roupeiro); – Sá Branco (encarregado do Pavilhão, funcionário da Câmara)

Grupo Técnico:

Treinador: (2ª volta): Francisco Velasco, de Cascais

Preparador Físico: Prof. Costa Marques

Enfermeiro/Massagista: Álvaro da Graça Ventura

Mecânico/Roupeiro: Fernando Silva

… 

Grupo Atletas:

Vasco Parreiral Simões Vaz, de Ançã, Coimbra

Mário José Lages Araújo, de Carnaxide

– Vítor Capitolino, de Tomar

– Horácio Manuel Ferreira Honório, de Tomar

– Manuel Luís de Oliveira Bravo – GR, de Olivais Sul, Lisboa

Araújo – GR, de Abrantes

– João Manuel da Silva Batista, de Tomar

– António Alberto da Silva Vicente (Tó-Bé), do Carregado

De pé, da esq.: Vasco, Batista, Tó-Bé, Lages, Velasco, Prof. Marques, (?) – Agachados: Capitolino, Bravo, Araújo e Honório.

Esta foi a equipa, entre 16, que à 15ª jornada se encontrava em 10º lugar, colada às três acima da linha de queda, por 1 e 2 pontos. Da análise que tinha feito, do resto dos clubes participantes e respectivas posições na tabela, era inevitável avisar os atletas que teríamos de trabalhar duramente.

Com o apoio dos outros elementos do Grupo Técnico e a entrega total de todos os jogadores, além dos treinos normais, acederam participar no que na altura apelidei de uma orgia de treinos, que se realizaram nos dias de carnaval. De sexta a domingo, realizámos treinos bi-diários, onde a criatividade levou o Prof. Marques a criar um circuito de musculação num anexo para onde iam os atletas de patins que eu ia enviando a intervalos, sem parar a preparação dos outros.

Recordo-me que lá fora, os festejos de carnaval prosseguiam com desfiles, bombos e música e que, no interior do Pavilhão, só se ouviam os ruídos característicos da patinagem, travagens, passes de bola e seticadas. Por esta altura já utilizava umas barrinhas de chumbo de 50 e 100 gramas que colocava com adesivo nas caneleiras dos jogadores, em especial dos guarda-redes, a fim de aumentar a carga de trabalho.

Sobre esta 2ª volta não guardei muitos registos dos jogos, pois a minha preocupação estava virada para aspectos importantes, como travar dirigentes que vinham por entre as cadeiras do autocarro, nas viagens ao norte, a fazerem-se ouvir pelos jogadores que seria bom se conseguíssemos um empate. Quando um deles,  responsável pela Secção, se foi aproximando das traseiras do veículo, pedi-lhe para sentar-se ao meu lado. Alertei-o calmamente que eu, como treinador, nunca pedia aos meus jogadores para ganharem jogos mas sim para jogarem o melhor possível e concluí: – “Se você fica satisfeito com um empate, seguramente que vai ter uma derrota… e isso é coisa que eu não desejo, portanto não estabeleça objectivos pois essa é a área de minha responsabilidade!”

Este tipo de intervenções tinham o exclusivo objectivo não só de nos conhecermos, como também de definir claramente as funções de cada um. Como se diz na gíria: “Cada macaco no seu galho”.

E foi com os tais altos e baixos que caracterizam estas equipas que o Campeonato Nacional terminou. Com o total empenhamento dos atletas, o Sporting Clube de Tomar ascendeu ao 7º lugar, entre as 16 que concorreram na prova, facto que foi aceite por todos como bom resultado. Uma semana antes do último treino, fui abordado por um dirigente que me perguntou, numa conversa casual, se por acaso tinha em mente algum jogador de outro clube, que tivesse observado, com vistas à nova época. Fui claro em responder que preferia manter a mesma equipa, com atletas que já conhecia.

O curioso da história foi que, tendo realizado o último treino da época, ao regressar a Lisboa de comboio com os atletas habituais, dois deles, antes de descerem nos seus apeadeiros, começaram a despedir-se de mim como se fosse pela última vez. Surpreendido, inquiri sobre o que se passava e eles informaram-me que como nenhum dirigente lhes tinha falado nesta última sessão, era porque não os queriam lá mais.

O quê? – Perguntei atónito, a olhar de uns para os outros.

É assim mesmo… – confirmaram.

Bem, então é melhor eu despedir-me de vós porque eles também não falaram comigo…!

Acabámos todos às gargalhadas o que desanuviou um tanto a atmosfera.

Mas o incrível disto tudo é que tinham razão! Os que se penduram nos outros galhos, mostram os dentes e coçam-se uns aos outros, naquele jeito que nos é dado observar nos documentários da TV, sobre as espécies. Emudecem e os demais que mudem de árvore.

Consequência: – Não tive outro remédio, pendurei-me na minha…

Todavia, esta fantástica novela não fica por aqui, como se poderá ler no próximo artigo. Aparentemente, a dada altura, uma ventania forte soprou lá pelos lados do Rio Nabão, a agitação foi tal que saltaram dos galhos e vieram, em grupo, escalar a minha árvore em Cascais.

– Segue-se parte 2

 

 

 

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2 Responses to Época 1983/84 – Sporting Clube de Tomar – parte 1

  1. nullus says:

    En las fotografías el entrenador es identificado con este señal (?)

  2. Velasco says:

    El nombre del entrenador, Francisco Velasco, debe aparecer después de (?) que no sé. Un error mío que será corregido. Gracias.

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