1957/1967 – O apogeu do hóquei moçambicano – parte 4 – Velasco dixi

X ANIVERSÁRIO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DO HÓQUEI EM PATINS DE MOÇAMBIQUE

Francisco Velasco

«Apresentação desnecessária

Entre outras, este boletim tem a finalidade de levar aos novos algum conhecimento sobre o prestígio que o hóquei moçambicano alcançou no campo internacional, e fazer recordar aos mais antigos, alguns aspectos que, talvez, o passar do tempo tenha feito esquecer.

Ninguém melhor que os próprios intervenientes nas memoráveis partidas internacionais que tornaram conhecido e respeitado o hóquei em patins de Moçambique, poderia fazê-lo…

As páginas que se seguem constituem um testemunho de muito interesse dos maiores hoquistas que Moçambique já teve».

Sem esquecermos José Vaz Guedes, também em página do mesmo boletim.

(Excertos de edição de Produções Golo, 22 de Maio de 1967)

Falar em Francisco Velasco é recordar uma das maiores figuras do hóquei em patins nacional. É também reviver uma figura grande dos rinques, um desportista de enorme classe, e ainda um exemplo de modéstia natural que teve o condão de lhe granjear amizades.

Ausente na África do Sul, onde reside actualmente, Velasco está presente nesta significativa iniciativa da Associação de Patinagem de Lourenço Marques, como homenageado, mas nós diremos, talvez, que a sua presença terá, para ele, ainda mais um significado: recordar e reviver os grandes tempos do hóquei lourençomarquino.

Não podia faltar nesta nossa missão, a valiosa contribuição de Francisco Velasco. O correio permitiu a realização do intento e… Velasco escreveu:

«Um conjunto de circunstâncias e factores próprios da época em que vivemos a nossa juventude fez com que eu me interessasse pelo hóquei em patins. Daqueles factores destaco a tendência característica da rapaziada da minha geração a dedicar-se a todo e qualquer desporto. Mas a razão, digamos, o momento em que me defini acerca da modalidade que mais me despertava, foi quando, ainda garoto, assisti às exibições realizadas pela Selecção Nacional Portuguesa, campeã do Mundo que visitou Moçambique a convite do Clube Desportivo de Lourenço Marques. Esta equipa, com o lote de jogadores brilhantes por que era constituída, deixou-me profundamente impressionado e julgo que não errarei se disser que foi ela, também, quem decidiu e influenciou os meus companheiros e a maior parte dos outros praticantes.

Não me recordo com precisão quando comecei a praticar estes desporto com regularidade, pois desde muito garoto que praticava e jogava um hóquei antiquado, com sticks de hóquei em campo e bolas de ténis cheias de areia. Lembro-me, sim, que pouco depois da visita da selecção nacional passámos a juntar-nos com frequência e mais entusiasmo no rinque do Sindicato e que durante muitos anos seguidos a”regularidade” transformou-se em hábito quotidiano.

A organização ou sistematização, como lhe queiramos chamar, da prática da modalidade, começou então por essas alturas, orientada e controlada pela mão do nosso inesquecível o bom amigo Lima de Abreu. A”regularidade” era tal que ele, coitado, bem lutava por marcar um ou dois dias em que não houvesse treino!… Gostaria de referir todos os torneios em que tomei parte, mas eles foram imensos se contarmos com as provas locais e assim registarei somente aqueles de maior projecção e significado, na altura:

– Em 1953, em Lourenço Marques, o torneio em que participou a equipa do Benfica, campeão nacional;

– em 1955, na Metrópole, os diversos jogos realizados quando da digressão da equipa de SNECI. Neste mesmo ano destaco o torneio realizado em Modena, na Itália, onde eu e o António Souto fomos feitos “meio internacionais”, jogando pela selecção nacional que acabara de disputar o Campeonato do Mundo. Joguei pela primeira vez com o Jesus Correia e Correia dos Santos;

– Em 1956 quando residia na Beira, o torneio em que participou a equipa do Paço d’Arcos que sofreu a primeira derrota da sua digressão;

– Em 1957, em Lourenço Marques, o Torneio organizado pelo Ferroviário com a presença da selecção da Catalunha, cujos componentes fizeram parte da selecção nacional espanhola, Campeã da Europa. Este torneio, especialmente, gravou-se na minha memória e praticamente na de todos os adeptos da modalidade, visto ter representado o primeiro passo para a nossa consagração no hóquei em patins. Batemos, para surpresa de todos, o grupo mais forte, existente naquela altura, no Mundo.

– Em 1958, em Montreux, na Suiça, a Taça das Nações onde os jogadores moçambicanos, em representação de Portugal, fizeram a sua estreia internacional, ganhando o torneio. Também em 1958, desta vez integrado na selecção nacional, o Campeonato do Mundo realizado no Porto;

– Em 1959, em Genebra, na Suiça, o Campeonato da Europa que também vencemos;

– Em 1960, desta vez em Madrid, o Campeonato do Mundo assinalado pelo facto de ter sido a primeira prova deste nível que Portugal ganhou na Espanha;

– Em 1964, em Barcelona, o Campeonato do Mundo que marca a minha última competição internacional, pois a partir dessa data afastei-me para residir na África do Sul.

Não me recordo ao certo quantas vezes, fui internacional, mas julgo tê-lo sido, pelo menos, umas 60 vezes. Registarei, agora, o que considero os momentos mais felizes da minha carreira desportiva:

– A nossa vitória, em Lourenço Marques, há exactamente dez anos, sobre a selecção da Catalunha;

– A vitória no Torneio de Montreux, onde a nossa força de jogo e prestígio, foram reconhecidos;

– Os campeonatos do Mundo, no Porto, em 1958, e em Madrid, em 1960, por razões óbvias.

Bem, vou agora dizer-lhes outros momentos felizes da minha vida que foram bastantes. Todos aqueles em que o povo português, quer o de Moçambique, quer o da Metrópole, nos acarinhou e amparou, reconhecendo, desse modo, o esforço e sacrifício que eu e outros fazíamos, pelo muito gosto que dedicávamos à modalidade. Esses momentos eram manifestações de alegria e entusiasmo com que me rodearam e aos meus colegas, que pela sua espontaneidade fizeram com que se tornassem dos pedaços mais felizes da minha carreira desportiva.

E a culminar, não posso deixar de apontar o momento em que recebi das mãos do Presidente da República a medalha se Mérito Desportivo, meta ambicionada por todo o desportista verdadeiro e que se preza. Para concluir, direi que o aspecto agradável que as viagens me proporcionaram, levando-me a sítios diferentes, onde, pessoalmente, me foi dado conhecer usos e costumes também diferentes, e de que só fazia uma vaga ideia, constituiu, igualmente, um pormenor de interesse na minha carreira desportiva. Este pormenor, por si só impagável, contribuiu imenso para dilatar a minha cultura. O contacto directo com as diferentes comunidades dos países que visitei foi, para mim, um dos aspectos mais interessantes de toda a minha vida desportiva.»

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