X ANIVERSÁRIO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DO HÓQUEI EM PATINS DE MOÇAMBIQUE
«Apresentação desnecessária
Entre outras, este boletim tem a finalidade de levar aos novos algum conhecimento sobre o prestígio que o hóquei moçambicano alcançou no campo internacional, e fazer recordar aos mais antigos, alguns aspectos que, talvez, o passar do tempo tenha feito esquecer.
Ninguém melhor que os próprios intervenientes nas memoráveis partidas internacionais que tornaram conhecido e respeitado o hóquei em patins de Moçambique, poderia fazê-lo…
As páginas que se seguem constituem um testemunho de muito interesse dos maiores hoquistas que Moçambique já teve».
Sem esquecermos José Vaz Guedes, também em página do mesmo boletim.
(Excertos de edição de Produções Golo, 22 de Maio de 1967)
Fernando Adrião é talvez um caso único no desporto nacional e a sua carreira, uma das mais brilhantes até hoje vividas por um desportista. Fernando Adrião acedeu colaborar connosco e eis, a seguir, as suas palavras.
Elas são, só por si, a extraordinária história dum verdadeiro campeão.
«Na verdade, eu nasci com a patinagem e o hóquei em patins no sangue. Influenciado naturalmente pela dedicação de meu pai à modalidade ainda muito antes do meu nascimento em 1939, encontrei no âmbito familiar, como brinquedo favorito os patins. Já aos dezoito meses tinha os meus, e equilibrava-me relativamente bem. Aos dois anos tive a honra de entrar pela primeira vez num recinto reservado à prática do hóquei em patins, envergando a camisola do Futebol Benfica (clube de meu pai), bem como dos então famosos Sidónio e Olivério Serpa. Efectuei a minha primeira entrevista sem falar, pois meu pai disse tudo por mim, porque eu pessoalmente encontrava-me “demasiado ocupado” com a bola e o stik, nessa noite. O “Stadium” publicou. Essa é a recordação mais querida da minha carreira desportiva que hoje se traduz num papel que guardo com muito carinho. Daí em diante o meu entusiasmo foi aumentando e já em Lourenço Marques, em 1943 fui dos mais jovens a pisar o recinto do SNECI, quando ainda não havia nesta cidade uma Associação que dirigisse os destinos do hóquei.
Tendo o meu pai, transitado para o Desportivo de Lourenço Marques, onde fundou a secção de hóquei em patins, eu acompanhei-o. Em 1948, iniciou-se a fundação a primeira Escola de Infantis, no clube, e no ano seguinte tivemos a honra de participar no programa da inauguração do primeiro campo do Desportivo para a prática da modalidade, com a visita dos então Campeões Mundiais, Portugal. Tive o primeiro jogo nessa ocasião e a alegria foi enorme. Jogámos os “A” contra os “B”. No ano seguinte efectuou-se em Lourenço Marques, o primeiro e único Campeonato de Infantis, aonde representei o Desportivo. Saímos vencedores. Conquistei o meu primeiro troféu. Ofereceram-me uma miniatura em bronze do Campeão Mundial, Sidónio Serpa, por ocupar o seu posto na minha equipa. Foi o primeiro estímulo, na minha carreira. No ano seguinte transitei para as segundas categorias com 13 anos. Fiz aí uma época e depois ocupei o lugar de Mário Lisboa na categoria principal. Aos quinze anos era titular da equipa do Desportivo.
Na minha carreira desportiva, tenho diversas recordações inesquecíveis, cada qual na sua ocasião e completamente distintas. No entanto, tenho duas bastantes significativas para a minha carreira. A vitória em 1958, na “Taça das Nações”, em Montreux, representando Portugal, na Selecção de Moçambique, quando na final perdendo por dois a zero, fomos vencer o encontro por quatro a dois. A nossa alegria foi de tal forma, que todos ríamos e chorávamos simultaneamente. Também em 1960 no Mundial em Madrid, quando tudo e todos eram contra nós vencemos na final a Espanha por três bolas a uma, e aquele público que nos silvou inicialmente, tributou no final da contenda a maior ovação que presenciei no estrangeiro. Nessa ocasião a alegria também foi enorme, mas todos tínhamos um orgulho muito especial na cerimónia da entrega dos prémios. Ouvir o hino do nosso País ser tocado em primeiro lugar, na qualidade de Campeões, em terras dos nossos mais directos adversários, a Espanha. No que se refere a internacionalizações, registo:
– Pela Selecção de Portugal – 114 jogos internacionais.
– Pela Selecção de Lourenço Marques e Moçambique –15 jogos internacionais.
Como facto mais marcante da minha carreira desportiva, terei de admitir em primeiro lugar, a condição privilegiada que a natureza me deu de poder ser um continuador da obra iniciada por meu pai, na modalidade, e consequentemente herdeiro de um nome que foi bastante distinguido como praticante e preparador de jogadores de hóquei em patins. Ter conseguido ser Campeão Mundial aos 18 anos, igualmente marcou em mim o sentido de responsabilidade, na minha carreira com praticante, exigindo sempre mais espírito de sacrifício e trabalho. Logo depois abraçando a carreira de treinador e preparador, junto da equipa do Malhangalene, ir ao Continente conquistar a “Taça de Portugal”, em confronto com as melhores equipas Nacionais, foi o prémio da minha dedicação à modalidade, nos diversos sectores em que tive ocasião de colaborar e orientar.
Cada vitória no campo desportivo teve a sua amplitude de alegria. Será difícil distinguir uma das outras, pois quer nos Torneios das Nações, Taças Latinas, Europeus, Mundiais, ou ainda em Regionais, Provinciais, ou Nacionais, o manifesto destas vitórias tem, cada um, a sua história. Poderei admitir que me sinto totalmente feliz por ter colaborado em diversas delas e por ter encontrado no desporto a amizade de muitos desportistas que trabalharam por nós, jogadores, quase na obscuridade. Servi a cidade, a Província, e o País, no campo desportivo prestigiando-os através da modalidade que abracei no desporto. Isso é suficiente, para mim.
No entanto a maior honra, e a que certamente me traduziu maior felicidade, foi ter sido convocado pela Federação Internacional, para representar a Selecção do Mundo, em Madrid, contra a Espanha, quando das comemorações dos 25 anos da Paz Espanhola.
Muito embora só tenha conhecido dois clubes, oficialmente, na minha carreira desportiva – o Desportivo de Lourenço Marques e o Malhangalene – tive o prazer de envergar, em diversas competições, as camisolas dos clubes e selecções abaixo mencionados:
– 1955 – SNECI – Digressão à Metrópole;
–1956 – Sporting de Lourenço Marques – Digressão à Beira, com o Paço d’Arcos;
– 1959 – S. Lisboa e Benfica – Festa de despedida de Fernando Cruzeiro;
– 1961 – Selecção de Luanda e Selecção de Angola – Digressão ao Brasil;
– 1965 – F. Clube do Porto – Festa de despedida de A. Moreira.
E a concluir, não posso deixar de referir, com prazer, os seguintes factos:
– Ter vencido consecutivamente, integrado na Selecção Nacional, todos os Campeonatos Europeus e Mundiais, alternadamente, desde 1958 a 1963;
-Ter sido distinguido pela Imprensa local em três anos consecutivos como atleta do ano, através das minhas actuações regionais e internacionais;
– Ter actuado no local, Montreux, onde o meu pai actuava na ocasião do meu nascimento em 1939, igualmente em representação de Portugal, em 1958;
– Ter sido o marcador do golo da vitória em 1957, actuando pela Selecção da Cidade contra a Selecção da Catalunha, que nos ditou a primeira vitória sobre a Espanha no campo internacional;
– Ter sido o primeiro elemento da nossa Associação a ser convidado pela Federação para fazer parte da equipa nacional – Campeonato Europeu de Juniores 1955;
– Obter a 100ª internacionalização no mesmo local, Barcelona, aonde tive a primeira, no Europeu de Juniores;
– Ter sido distinguido com o emblema de ouro da Federação Espanhola, quando integrado na Selecção do Mundo;
– Ter sido condecorado pelo Governo, com a comenda de Ordem de Mérito Desportivo, por S. Exª o Sr. Presidente da República, Almirante Américo Tomás;
– Ter sido distinguido com três medalhas de ouro:
– Mérito Desportivo – Clube Futebol Benfica;
– Homenagem – Cidade de Lourenço Marques;
– Homenagem – Clube Desportivo da Malhangalene.»
Gostava de saber do paradeiro do Cancela , guarda redes do Sporting Clube de Lourenço Marques , que me substitui.
Um abraço
Olá, Virgílio
Talvez alguém que venha a ler este comentário possa saber do paradeiro do Cancela. Eu desconheço. Aproveito para retribuir o teu abraço, em memórias dos velhos tempos.
Hoje ao ler uma carta que escrevi em finais de 1957, para a minha namorada de então, depois minha mulher, a certo ponto eu dizia: Estou a ouvir a Emissora Nacional e a Selecção de Lourenço Marques, acaba de ganhar no Porto por 4-3. Na sua digressão, pelo Norte, empatou um jogo e ganhou os outros três. Vamos a ver o que fará em Lisboa.
Nesta altura, era eu Técnico do Rádio Clube de Moçambique.
Grande memória… tratou-se do Torneio Quadrangular do Norte que vencemos tendo empatado com o Académico. Logo de seguida ganhamos o Torneio Quadrangular do Sul e outros jogos importantes. O único jogo que perdemos nesta digressão da Selecção de Lourenço Marques foi contra o Sintra, num jogo amigável, sem motivação especial mas também sem tirar o mérito ao Raio, Edgar e aos dois “mosquitos” Rui Faria e Pompílio, que posteriormente nos acompanharam em várias Selecções Nacionais.
Ha sido el mejor jugador de todos los tiempos,totalmente reconocido por España,y una honra para el hockey patines mundial,dios le tenga en su seno
Seguramente. Os seus títulos assim o demonstram. RIP.
Creio que o ter conhecido em MOÇAMBIQUE mais própriamente em MARRUPA E ISTO NOS ANOS DE 1964 A 1966 + OU -PEDIU-ME PAR LHE REPARAR UM RÁDIO TRANSISTOR FOI DOS PRIMEIROS A APARECEREM POR LÁ E EU DANIFIQUEI-O POR NIGLIGÊNCIA