O fim dos galácticos…
Tive ocasião de ver na televisão, com olhos de topógrafo, isto é, olhar, ver e reparar que é um condicionamento de profissão, a final do Campeonato da Europa de 2010, realizado em Wuppertal, Alemanha, que foi disputado de acordo com as novas regras, o tal Código Penal a que já me referi.
Foi um jogo interessante de se analisar, emotivo, em que as diferenças entre Portugal e Espanha foram notórias como o resultado de (8×2) assim o demonstra.
O que saltou à vista imediatamente é que, parte das novas regras são positivas no que diz respeito às faltas e respectivos castigos que vieram travar a violência, os choques e os empurrões que eram uma característica dos jogos disputados anteriormente. Em suma, a disputa tornou-se mais limpa, o que é saudável e vinha tardando há décadas.
Por outro lado, e em tempo, há que se fazer uma referência especial à excelente cobertura televisiva com que a Wall Street, WSPCI, nos brindou, editando a minha peça original. Não é que o meu célebre olhar de topógrafo tivesse falhado. Habituado a detectar discrepâncias na mira, erros nos cálculos e inconsistências generalizadas, fui assistindo aos jogos, via grandes planos, planos médios e close-ups, repetições acertadas e vistas de topo, o tal «bird’s eye view», como se fosse a coisa mais natural deste mundo.
Nada me chocou, daí que nem sequer pensei na logística que isso envolve, nos vários meios humanos e materiais necessários e permanentemente empenhados, para que os telespectadores fossem levados comodamente para dentro do pavilhão. Foi como se estivesse a ver o «Avatar», sem pensar nos operadores de câmara fixos e móveis, nos que assistem os primeiros, segurando os fios, tampouco nos sempre atentos homens ou mulheres duma «regi», que de olhos colados nos monitores, procuram proporcionar-nos, em tempo real, as melhores cenas. Sem dúvidas nenhumas, foi um trabalho soberbo, pelo qual, seguramente, todos nós que gostamos da modalidade, estamos imensamente gratos.
Quanto ao resto nada de novo na «frente ocidental», nenhuma das equipas sabe atacar e resumem-se a contra-ataques em alta velocidade, em que os espanhóis sempre foram exímios e venenosos. A velocidade, em qualquer desporto, entusiasma os espectadores. Tal como nas corridas de carro e de motas, é sempre excitante ver um trio de futebolistas ou um par de hoquistas a deslocarem-se sobre o seu alvo, como uma esquadrilha de jactos.
– Só que nos nossos desportos, Futebol e Hóquei em Patins, a velocidade é um meio para se atingir um fim e não um fim em si próprio.
– Foi esquecida a asserção que a velocidade é inimiga da boa execução.
– Apagaram da memória que as punições só devem ser efectuadas quando as faltas são intencionais e que as não intencionais devem passar sem castigos severos. Vi neste Europeu um defensor, correctamente postado na sua área, e um bola atirada para cima dele que ao bater-lhe no setique subiu além da altura regulamentar. Decreto: Grande penalidade!
– Vi uma bola escapar-se inadvertidamente de um atacante para o seu lado, e ele a ir atrás dela para recuperá-la. Decreto: 45 segundos, e a bola vai para o adversário!
– Vi uma equipa a atacar outra que sabe defender-se, totalmente empenhada em abrir uma brecha: Decreto: 45 segundos, jogo passivo!
O grotesco disto tudo é que a contagem de segundos é feita pela cabecinha de um árbitro que não pode olhar para o relógio de pulso porque senão deixa de ver o que se passa na pista.
Daí que os «engenheiros das regras», ilustres desconhecidos, por não perceberem nada de hóquei, não antecipam as consequências e continuam agarrados às regras de Hóquei em Gelo, a desvirtuar por completo o nosso hóquei, transformando esse Vinho do Porto numa mistela que os deixa inebriados.
Para já, asseguraram o aparecimento dum guarda-redes que parece um deficiente a arrastar um joelho pelo chão. Antes tinham autorizado seticadas com arcos de 180º, tipo golfe, sem repararem que com isso a precisão se foi. Agora passam a ter jogadores, ansiosos por jogar, a terem de contar mentalmente os segundos, pois o implacável Decreto paira sobre eles como uma espada de Dâmocles.
Ontem tive um sonho. Estava numa sala, sentado na mesa dos oradores, e defronte de mim, num anfiteatro, dispunham-se cerca de 20 pessoas, dirigentes, árbitros, treinadores, jogadores e especialmente os «engenheiros das regras», de cronómetro na mão. Tinha-lhes pedido que a um sinal meu, sem olhar para o relógio, iniciassem mentalmente as contagens, primeiro de 45 segundos, depois de 5 segundos e, finalmente, de 45 mais 5 segundos. Quando me deram os cronómetros travados, fiquei estarrecido (no meu sonho, claro) pois nenhum tinha acertado.
É a esmo que contam e recordei-me da parelha de árbitros que certa noite, em Tomar, entraram atrasados no pavilhão e desataram à brigar no balneário com outros agentes que já tinham sido nomeados, como recurso, tal como mandam as regras. Esses homens do apito estavam com os copos! Imaginem só o que não vai suceder no Universo de jogos de todos os escalões etários, sim porque as regras tem de ser aplicadas em todos eles, em que uns contam 30 segundos, outros 20 e aqueloutros 50 segundos para beneficiarem os da casa ou quaisquer outros interesses! Isto sem ofensa para os árbitros sérios.
Notem bem os responsáveis, em especial a Federação Portuguesa de Patinagem, que não têm de ser subservientes a todos estes disparates, antes pelo contrário, têm o dever, a obrigação e o poder de intervir rapidamente e evitar que cubram com terra um quase defunto Hóquei em Patins.
Com o tipo de hóquei que assisti neste Europeu, (com isso não se conclua que deixei de reparar na alta qualidade dos jogadores em campo), nunca mais teremos jogadores galácticos, da estirpe dum Correia dos Santos, dum Fernando Adrião, dum Bouçós, dum Livramento, dum Moreira, dum Ramalhete, dum Trullols, dum Puigbó, dum Villa Puig, dum Torner, dum Daniel Martinazzo, dum Aguero, dum Chana, dum Marzella e tantos outros. Uniformizaram os atletas e, apesar dos estilos deles serem diferentes, pois cada um tem o seu, jogam todos da mesma maneira, a patinarem desenfreados, sem eira nem beira, com passes sem sentido nem continuidade, revelando total desconhecimento do que é praticar bom hóquei.
Se a Federação Portuguesa de Patinagem, não quiser ficar conotada, na História desta Modalidade, com a nova versão de Hóquei em Gelo sobre Rodas, ou com a barreira erigida contra o aparecimento de atletas fora de série, basta-lhe fazer três coisas simples, em Portugal, pois tem poder para isso:
1 – Eliminar de uma vez para sempre a restrição dos 45 segundos, que já no passado fora chumbada, com argumentos sólidos, e atirada, como lixo, para debaixo do tapete e que agora, infelizmente, levantaram para repescá-la.
2 – Obrigar os Guarda-Redes a defenderem sobre os tacos, sem joelhos nem luvas a apoiarem-se no chão. Em caso de infracção, o castigo será uma grande penalidade, batida da marca usual. Cria-se contudo uma excepção quando ele, após uma primeira defesa, caia no solo e procure defender uma recarga. Neste caso, um livre indirecto dos cantos superiores da área, seria a punição adequada.
3 – Penalizar todas as seticadas, em que o aléu descreve um arco acima do ombro do atirador.