O estágio
Quando me referi à Grande Família, ela não se trata duma figura de retórica, existiu mesmo e nasceu na Esplanada dos Cacetes e consolidando-se eventualmente na Maia, na Estalagem do Lidador.
Tenho novamente de render a minha homenagem ao Seleccionador Nacional Emídio Pinto, esse grande leader que duma forma notável deixou de lado a tabuleta do cargo e passou a ser um de nós. Brincalhão, como todos os outros, incluindo o impagável António Henriques, seu treinador adjunto, dirigiu o barco sem ser visto a comandar mas rumando sempre na direcção que deve ser o objectivo primordial de qualquer seleccionador ou treinador: Criar o espírito de Grupo.
A tarefa parecia difícil e melindrosa, tendo em conta que os moçambicanos e os metropolitanos, bem pouco tempo antes, tinham lutado encarniçadamente (mas de modo desportivo), uns contra os outros. Visto à posteriori, a liderança inteligente, honesta e simples de Emídio Pinto, conseguiu rodear “os de lá”, o Moreira, o Adrião, o Bouçós e eu, com um lote de companheiros de estirpe elevada, o Edgar Bragança, o António Matos, o Carlos Bernardino, o Vaz Guedes, o Perdigão, o Trabazos e o Mário Lopes.
Foi com este grupo, irmanado em franca amizade, que viajámos para o Palácio de Cristal, hoje Rosa Mota, de 24 a 31 de Maio, a fim de enfrentar os nossos adversários, numa prova dura que obrigava à disputa de 9 jogos em 8 dias.
Num aparte, lembro-me que nos encontrávamos em plena campanha de eleições, com Humberto Delgado a percorrer o país. O ambiente cinzento que encontrámos ao chegarmos à “Cidade Invicta”, era sobremaneira carregado. As pessoas passavam com ar sério, apressadamente, a resmungar, como se falassem para alguém. Estou plenamente convencido que o Campeonato do Mundo teve um efeito moderador no espírito dos portuenses. A Selecção Nacional, com as suas idas aos treinos, atraía mirones com quem trocávamos palavras e cumprimentos e a imprensa dava enorme cobertura aos acontecimentos. Tivemos a Televisão na Estalagem onde realizaram um apontamento acerca do dia-a-dia da Selecção que ficou histórico pois, como média, ainda se encontrava na sua meninice.
Os bilhetes vendidos em cadernetas de série esgotaram-se, o que foi animador não só para os jogadores como também para a Federação Portuguesa de Patinagem, na altura literalmente de tangas. Com as receitas obtidas, estas vieram trazer um grande desafogo as seus Dirigentes da altura, gente excepcional que bem o merecia, permitindo-lhes abordarem as iniciativas desportivas que se seguiriam.
Ganhámos o Campeonato do Mundo e as palavras escasseiam-me para descrever a euforia que nos avassalou a todos, desportistas, dirigentes e espectadores, bem como as populações da Metrópole e de Moçambique, e até mesmo algumas “ovelhas negras”, porque elas “hay… hay”!
Vencemos a Alemanha (8×1), a França (6×0), a Suíça (6×1), a Holanda (14×0), a Itália (3×1), a Bélgica (2×1), arrancados a ferro e fogo, a Inglaterra (6×0) e empatando com a Espanha (2×2), depois de novamente estarmos a perder por (2×0) na primeira parte. O empate foi suficiente para a conquista do título.
Podemos afirmar que cumprimos a nossa missão com desportivismo, esforço e brio, estimulados por um público generoso que acorreu em massa para apoiar a sua Selecção. Bem hajam todos!
Olá Amigão Chico o Mamba.
O trabalho está excelente e com o passado daquêles que viveram naqueles tempos de glória dessa garotada da nossa sempre muito querida Lourenço Marques.
Para comerar êsse tempos ao ver estas fotos, voltei aos belos tempos e minhas lágrimas brotaram como champagne.Vocês foram maravilhosos e eu agradeço pelos belos momentos de alegria que me ofereceram como Lourenço Marquino e Moçambicano. Os que se foram jamais serão esquecidos e os que vivem continuarão recebendo nossos elogios.
” A grandeza do homem não está nas honras que recebe e sim nas que merece.”
Abração do Amigo com agradecimentos e muitas saudades
Rui Bastos