Ano de ouro
O Torneio de Montreux na Suiça, foi sempre uma prova de teste apetecida em que, dum modo geral, participavam os países que pouco tempo depois iriam disputar o Campeonato do Mundo. De vez em quando, uma equipa de Clube representava o país de origem. Neste ano em causa, essa responsabilidade foi atribuída à Selecção de Moçambique, sendo a primeira e última vez que os seus hoquistas o fariam em terras estrangeiras.
Essa honra foi recebida com enorme alegria pelos atletas, dirigentes e população em geral, encetando-se uma preparação mais adequada que culminou num estágio na Namaacha, na quinta do Engº Eduardo Veríssimo Dias Barbosa, presidente do Clube Ferroviário, cujas instalações magníficas foram invadidas pelo plantel convocado.
A delegação que eventualmente se deslocou à Suíça era foi constituída pelo Presidente da APLM, Engº Evaristo, pelo Vice-Presidente Engº Alcântara Santos, o seleccionador Armando Ribeiro, coadjuvado por Armando Cardoso. Os atletas seleccionados foram Moreira e Passos Viana, (guarda-redes), Souto, Adrião, Abílio, Carrelo, Velasco, Bouçós, Vitor Rodrigues e Romão Duarte, (defesas, médios e avançados). A acompanhar o grupo, o Presidente do CEFD, Capitão Vasconcelos Porto e uma plêiade de elementos da Imprensa, composta pelo cineasta Courinha Ramos, o locutor Mário Sérgio, o fotógrafo Carlos Alberto e jornalistas e vindos de Lisboa, os federativos e o Seleccionador Nacional Emídio Pinto, em missão de observação.
Os jogos foram disputados no histórico pavilhão de Montreux, de capacidade reduzida para espectadores, 1200 no máximo, o que em parte os tornava mais ruidosos, mas cuja pista permitia deslocações em alta velocidade. Com a lotação sempre esgotada, e a surpresa causada pelo hóquei moçambicano, o apoio dado às equipas era caloroso e permanente. O público, curiosamente, apoiava sempre a equipa mais fraca da jornada, contudo, na partida final, dividiu-se nitidamente pelos que torciam por Portugal e os que o faziam pela Espanha. Muitos suíços e portugueses que labutavam por aquelas paragens, claro, não regateavam os seus gritos de estímulo à nossa equipa.
Partida atrás de partida, todas disputadas com muito empenho, foram-se desenrolando a nosso favor, com os seguintes resultados: França (9×3), Inglaterra (8×2), Bélgica (3×0), Suíça (5×3), Itália (8×1), Alemanha (4×0). Ganhámos assim todos os encontros até à final e, neste jogo assaz electrizante, depois de estarmos a perder (0x2), na primeira parte, terminámos a partida vencendo a Espanha por (4×2) e, consequentemente, arrecadando a “Taça Lusitânia”. Como nota de humor, num dos jantares de confraternização com a Selecção de Espanha, um dos seus jogadores, referiu-se a uma situação ocorrida nesta final e fez a seguinte pergunta:
– Como é que vocês, a perderem por 2 a 0, ao intervalo, entraram depois no rinque a rirem-se às bandeiras despregadas?
De facto, ao alinharmos em frente um dos outros à espera que abrissem a cancela, (é notória a organização Suíça por seguir estritamente os horários anunciados), não conseguíamos travar as gargalhadas que uma anedota, contada no balneário pelo sempre bem humorado Passos Viana, tinha provocado em todos nós!
– Ah!… – respondeu ele, rindo-se por sua vez, com a explicação dada.
Além disto, a maior parte de nós viu neve pela primeira vez!
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